Hoje , acordei e
me permiti o direito de estar e permanecer desleixada.
Na
verdade, decidi-me desde ontem quando
escolhi o pijama para dormir - o que sobrou da definição do que foi um dia um
moletom : encardido , com algumas manchas que denunciam seu tempo ,alguns
rasgos nas laterais , furos diversos, partes confortavelmente descosturadas . Meias
sem vergonha de um dia terem sido brancas compõem o visual que, pela
sincronicidade, pedem cabelos desgrenhados e livres ; ao que não me fiz de
rogada.
Já era tempo de
depilação e uma ideia fixa entrecortava meus pensamentos: “deixe-os crescer, deixe-os crescer ....debaixo da calça jeans, ninguém irá perceber...” .
E em seguida, um
outro pensamento quase terno desabrochou em minha mente : sem namorado , sem
depilação , sem amor, sem dor . E o balanço foi positivo.
Veio-me um
abrasamento da alma, um novo frescor em viver ... Que cresçam ! Livres , longos , emaranhados e felizes !
Maquiagem ? Nem
pensar. Mas vou manter minhas personas . Não consigo abdicar totalmente de
todas as máscaras que uso para ser eu. Personas, ainda que sem o colorido da
maquiagem , são necessárias para se viver.
...No entanto , justo
quando minha porção ogra – ainda agora aflorada
– começa a sentir o gostinho da liberdade conquistada , eis que se avizinham os
minutos derradeiros de um fatídico domingo e minha coragem de cativa recém
liberta cai por terra...
A noite se aproxima de mim e a cama de Procrusto me aguarda.
Uma
das grandes revoluções do século XX foi a subversão das estruturas
sociais,encerrando-se a longa era em que a maioria esmagadora da população
vivia plantando, colhendo seus alimentos e pastoreando seus rebanhos.
Nestes tempos anteriores , as perspectivas
do ser humano eram duradouras.Os laços familiares eram certos e
as comunidades tradicionais. Após essa
migração em massa para as cidades/fábricas, novas relações sociais e de
trabalho começam a surgir.
No campo religioso, o protestantismo modifica a ética. Na vida pública, o Estado
não é mais o grande regulador e o
trabalho não oferece o mesmo grau de fixidez de outrora.
Classes sociais ? Não mais
será possível definir-se apenas por elas.
Hoje , as identidades não são mais homogêneas. Todas essas perspectivas estão
modificadas e o indivíduo precisa posicionar-se
em outras identidades: de gênero , de lutas
sociais, de crenças ou não crenças...
Esse processo de urbanização, aliado à evolução tecnológica , acentuou a dilaceração
dos espaços públicos e tornou as relações humanas "líquidas", como define
o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, um
dos intelectuais mais respeitados da atualidade.
Analisando os fenômenos da pós-modernidade, Bauman observa o contraste entre a solidez do
capitalismo de base industrial e a imaterialidade corrente, tanto no plano da
circulação da informação e do conhecimento como no das relações, cujos laços,
diz ele, afrouxaram-se em benefício da formação de redes virtuais, fazendo o
autor uma distinção entre as comunidades de outrora e as redes sociais de hoje. Segundo
ele , antes tínhamos uma noção de pertencimento à uma comunidade. Nascia-se
nela, e esta , precedia o ser humano.
Agora, temos a rede e, ao contrário , ela é feita e mantida viva por duas
atividades diferentes: conectar e desconectar. Conectar será sempre fácil , mas o
maior atrativo da rede em comparação com a comunidade de antes é a facilidade
de se desconectar.
Para
Bauman , com a velocidade da comunicação , do transporte e das novas relações
sociais, estamos modificando nossa relação com o território.Temos um novo modelo
de relações em que os espaços - agora comprimidos e conectados - trarão uma série
de conseqüências para a sociabilidade e , esta vasta gama de transformações , segue gerando um número cada vez
maior de incertezas. De fato , não temos mais garantias acerca de nada...
...a não ser das sete faces , oferecidas pelo poeta...
Mundo ,mundo, já não mais tão vasto mundo ... Ainda que se chame Raimundo.
Embora
continue uma rima ,não
uma solução;
Mundo
,mundo, vasto mundo;
Cada
vez mais gauche nosso coração. Mary Lúcia Oliveira.
A mentira está
no bojo da sociedade , e esta, depende
visceralmente daquela.
Mas o que é a
verdade ? As grandes teorias acerca desta não chegam a um consenso do que ela seria em absoluto. Todas dizem que a mentira é
sempre o que está em contradição com o que é a verdade, ou seja, a mentira seria a oposição ao que é
considerado verdadeiro. Assim, verdadeiro , de modo geral, é o que consideramos
como verdade.
Para Nietzsche ,
por exemplo , a verdade seria uma criação humana que se solidifica na convivência
verbalizada e pessoal, pois , para ele, esta
verdade seria apenas palavras proferidas
nas relações humanas.
O que é a
verdade, então? “ Um batalhão móvel de
metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas,
que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que,
após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as
verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tomaram
gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram
em consideração como metal, não mais como moedas”. (NIETZSCHE, 2005. p. 57).
Ainda segundo Nietzsche , um dos filósofos que de algum
modo defende a mentira e a entende como verdade, tudo não passaria de
convenções e conveniências, pois , se em algum momento esta verdade não agrada a
alguém, esse alguém poderá vir a trocar de "verdade".
Mas a mentira está realmente no bojo, no seio da sociedade : sutiãs
com bojo,enchimentos na panturrilha, no queixo........cuecas e calcinhas com bojo ! Afinal, hoje já se pode trocar esta verdade com a qual se nasce por
uma verdade menos retilínea e mais palpável , a tal ponto de que não ter
silicone ou não usar um sutiã com bojo ser uma espécie de defeito grave , uma inverdade. Ou seja, o seio
da sociedade já não é mais o mesmo. Tudo anda tão “fake”, tão siliconado...
E recorrendo
ainda a Nietzsche – entendido frequentemente
de modo errôneo - se você tentar não viver de forma niilista e sim ao sabor dos encontros com o “mundo da vida” Nietzscheano , rebelando-se e tentando , ao menos , usar
um sutiã sem bojo ; dificilmente
conseguirá comprá-lo . Ultimamente, é raro encontrar sutiãs sem bojo à venda no mercado (
a não ser os caríssimos ou muito feios ...). Bem, é melhor mesmo ir ao mundo de peito aberto!
Tentando – e não conseguindo – entender o que levaria grande
parte da elite brasileira (inclusive intelectual) a buscar,despudoradamente,
por meio (pasmem) da justiça(?) e da mídia brasileira, derrubar o governo do país - simplesmente por
este atender às necessidades das classes sociais menos abastadas – e a torcer
sempre contra o Brasil e os brasileiros, acabei por me lembrar de uma expressão , criada
por Nelson Rodrigues: “complexo de vira-latas” , constante em seu livro “À Sombra das Chuteiras Imortais”.
Esta expressão,
inicialmente cunhada por Nelson Rodrigues, há tempos assumiu uma identidade mais abrangente. Complexo de vira-latas, hoje,
vai além da esfera do futebol e parece
definir perfeitamente o sentimento de inferioridade do brasileiro,
historicamente estimulado por esta elite derrotista.Apesar da conquista dos
cinco títulos mundiais , este sentimento de inferioridade a que Nelson Rodrigues alude em relação ao
futebol , sempre aflora nas mais diversas esferas do cotidiano do brasileiro .
É de se pensar
então , por quê ? Por que grande parte da elite deste país,parafraseando ainda o meio futebolístico, está quase sempre cavando um gol
contra ?
Tenho por hábito,
analisar a história e suas implicações,relacionando-as ao que nos tornamos hoje.Deste
modo, voltando no tempo , veremos que a elite intelectual deste país obtinha
sua formação lá fora , na Europa ( e isso não mudou muito...). Assim , quando
intelectuais como Monteiro Lobato, por exemplo –ressalvada sua importância literária –
possuíam pruridos em relação à competência de nossa gente , de certa forma ,
entende-se. Esses intelectuais não viam no brasileiro o reflexo do europeu que
gostariam que fôssemos; provavelmente vitimizados pelas teorias vigentes à
época , acerca da supremacia da raça ariana. Entretanto, por óbvio,essa “europeização”
seria impossível. Cada nação tem suas
características e o que temos de melhor e que nos distingue é exatamente esta
miscigenação.
Mas , não dá para
entender , como, séculos depois , não
conseguem- ou não querem - superar este ranço de inferioridade relativo a tudo que vem de fora e que faz o
brasileiro se colocar voluntariamente como inferior.
No entanto,
talvez seja possível entender (embora não concordar). Tentando resgatar o provável
início de tudo , chegaremos à uma elite colonial que precisou desvalorizar o
país e seu povo , fazendo-os acreditarem ser “indolentes” e “colonizados
incapazes” para que aceitassem de maneira submissa e subserviente as diretrizes
da nação dominadora sem questionamento (lembremos que a dominação efetiva não
ocorre apenas por meio da força coercitiva). Mas e hoje , isso ainda se
verifica ?
Bem , penso que
hoje é bem mais repugnante . Dentro do complexo de vira-latas , agora não está
apenas a noção de inferioridade mas parece estar contido aí, também , o
desejo de ser pequeno. Alguns membros
da elite de sempre: burra , anti-patriota e derrotista , querem ver o país
altamente dependente de tudo o que é de fora , afinal, esta elite sim : subserviente
e preguiçosa , demonstra se beneficiar desta dependência e vive muito bem nela.
Parece mais fácil ser um(a) engenheiro(a) ou
um(a) advogado(a) – formado(a) em Harvard, por exemplo, e empregados
de uma grande empresa - ou ainda uma elite vendedora,filial de alguma multinacional. Dá
mais TRABALHO ser produtor do que um mero revendedor.
Enfim, se ontem
era ridículo não ser europeizado , hoje
, é não apenas ridículo mas igualmente triste
colocar-se como inferior para obter lucros , torcendo contra o próprio país, tentando impedi-lo
, a todo custo (leia-se: comprando o judiciário e a mídia) de crescer e se tornar
o gigante que a natureza nos fadou ser.
Recentemente, enviei este vídeo acima
para algumas amigas , imaginando inocentemente que , no mínimo , geraria alguma
comoção, discussão ou comentários. Nada. Fui retumbantemente ignorada.
Perplexa com tal
reação ou silêncio incômodo, comecei a pensar o que levaria mulheres a rejeitar
silenciosamente o assunto : feminismo.
Homens tendo esta
reação , “vá lá !”.É inaceitável , porém
compreensível até certo ponto, afinal , sentem-se ameaçados em sua hegemonia e
poder , por não saberem exatamente( ou
não quererem saber ) o que de fato venha ser feminismo . Mas, mulheres, tendo uma atitude como esta , não seria um paradoxo?
Enfim , parece que
tanto homens quanto mulheres demonstram não conhecer claramente o assunto.
É muito comum as pessoas serem contra
o feminismo sem sequer
entender o que ele significa.
É corriqueiro escutar discursos do tipo:
"...não sou feminista , sou feminina", ou
"...não sou feminista nem
machista, acho que todos devem ser iguais".
Bem , até para
aqueles que não cometem o ridículo
de falarem sobre
algo que não conhecem (ou que pensam conhecer) não é difícil perceber um acerta confusão de premissas
básicas nestes discursos , afinal , feminismo é tão somente “...um movimento político, filosófico e
social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens ...” (
......se , neste exato momento , você está se contorcendo diante do
computador por achar que esta definição está errada, sugiro que se
controle , pesquise e se conforme......). SORRY !
Basicamente ,É SÓ ISSO mesmo !
Quando uma mulher diz "...não sou feminista nem machista ,
acho que todos devem ser iguais " , na verdade está sendo incoerente e
dizendo : "não sou feminista, mas sou feminista" pois , ser feminista
, como já vimos, é exatamente isso :
lutar por direitos iguais .
No geral, as pessoas são
"contra" o feminismo sem sequer saber o que ele preconiza. Feminismo
não prega ódio nem a dominação das mulheres sobre os homens. O feminismo pede apenas um basta na dominação de um gênero sobre outro e não é – e nem
pretende ser - o contrário de machismo , até por que , machismo é um sistema de dominação
e feminismo é uma luta por
direitos iguais. E ainda , para os mais céticos : feministas não
odeiam homens , não querem se
rebelar, dominar o planeta ou cortar fora os testículos dos homens, querem
apenas igualdade de direitos , deveres e condições. É apenas uma questão de
justiça !
Assim, homens e mulheres que rejeitam o
termo “feminista” , na verdade não sabem
de fato o que ele significa. Feminismo não é um conceito que você deva
rejeitar. Se você é uma feminista, você acredita em liberdade , justiça e oportunidades iguais para todos.
Por que então tanto medo, tanta celeuma , discursos incoerentes
ou silêncio?
Bem, como todo sistema de dominação , para
se manter o poder vigente é preciso instaurar
esquemas de dominação e de manutenção desta dominação (claros ou
subjacentes). Fazer as próprias mulheres pensarem que ser feminista as fará serem vistas como anti-homens, agressivas e pouco
atraentes tem sido bastante
eficiente(embora esta também seja uma permissão nossa, ou da maioria de nós ainda, infelizmente ...).
E assim, diante da
manutenção do machismo, do silêncio
incômodo feminino ou da disseminação dos discursos incoerentes acerca do
feminismo , a pergunta final é: quem perde ?
Todos .
Mulheres e homens.
Vale
ressaltar que uma sociedade machista também oprime os homens por meio desse discurso e práticas machistas de que eles têm que ser os machos provedores,
que precisam ser durões, que não podem chorar nem demonstrar nenhuma sensibilidade afeita ao mundo feminino para não serem caracterizados como fracos.
Mas , se depois de toda esta informação
, você ainda não sabe o que fazer
, nem se deve fazer ou se
reconheça como um ser do tipo
resistente -preguiçosa (oso) , talvez
fique surpresa (o) com este
teste abaixo.
Mary
Lúcia Oliveira.
Teste divulgado pela
jornalista e escritora -Clara Averbuck
Teste simples pra saber se
você é uma pessoa que se identifica com o feminismo.
Vai encarar ?
TESTE:
1.
Você concorda que uma mulher deve receber o mesmo valor que um homem para
realizar o mesmo trabalho?
2.
Você concorda que mulheres devem ter direito a votarem e serem votadas?
3.
Você concorda que mulheres devem ser as únicas responsáveis pela escolha da
profissão, e que essa decisão não pode ser imposta pelo Estado, pela escola nem
pela família?<
4.
Você concorda que mulheres devem receber a mesma educação escolar que os
homens?
5.
Você concorda que cuidar das crianças seja uma obrigação de ambos os pais?<
6.
você concorda que mulheres devem ter autonomia para gerir seu dinheiro e seus
bens?
7.
Você concorda que mulheres devem escolher se, e quando, se tornarão mães?
8.
Você concorda que uma mulher não pode sofrer violência física ou psicológica
por se recusar a fazer sexo ou a obedecer ao pai ou marido?
9.
Você concorda que atividades domésticas são de responsabilidade dos moradores
da casa, sejam eles homens ou mulheres?
10.
você concorda que mulheres não podem ser espancadas ou mortas por não quererem
continuar em um relacionamento afetivo?
Respondeu
sim pra tudo?
Está
confortável na cadeira?
Você
é pró-feminismo, ou até... Feminista! Uau!
Você
não precisa ser ativista para ser feminista. Uma coisa é uma coisa, outra coisa
é outra coisa. Se você acredita na igualdade de direitos entre homens e
mulheres, você é feminista.
As
pessoas confundem feminismo com um monte de coisas. As pessoas têm medo da
palavra FEMINISMO.