Hoje , acordei e
me permiti o direito de estar e permanecer desleixada.
Na
verdade, decidi-me desde ontem quando
escolhi o pijama para dormir - o que sobrou da definição do que foi um dia um
moletom : encardido , com algumas manchas que denunciam seu tempo ,alguns
rasgos nas laterais , furos diversos, partes confortavelmente descosturadas . Meias
sem vergonha de um dia terem sido brancas compõem o visual que, pela
sincronicidade, pedem cabelos desgrenhados e livres ; ao que não me fiz de
rogada.
Já era tempo de
depilação e uma ideia fixa entrecortava meus pensamentos: “deixe-os crescer, deixe-os crescer ....debaixo da calça jeans, ninguém irá perceber...” .
E em seguida, um
outro pensamento quase terno desabrochou em minha mente : sem namorado , sem
depilação , sem amor, sem dor . E o balanço foi positivo.
Veio-me um
abrasamento da alma, um novo frescor em viver ... Que cresçam ! Livres , longos , emaranhados e felizes !
Maquiagem ? Nem
pensar. Mas vou manter minhas personas . Não consigo abdicar totalmente de
todas as máscaras que uso para ser eu. Personas, ainda que sem o colorido da
maquiagem , são necessárias para se viver.
...No entanto , justo
quando minha porção ogra – ainda agora aflorada
– começa a sentir o gostinho da liberdade conquistada , eis que se avizinham os
minutos derradeiros de um fatídico domingo e minha coragem de cativa recém
liberta cai por terra...
A noite se aproxima de mim e a cama de Procrusto me aguarda.
Pijama novo ,
depilação feita.
Primeiros raios
de uma segunda-feira .
Muita maquiagem !
Mary Lúcia Oliveira.
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