Não é só na política
que flertamos com o fascismo, nosso humor também parece ter sido contaminado
por ele.
Apesar de não muito desconectado dos modelos
estrangeiros, o humor brasileiro tem as suas particularidades. Segundo o titular
de teoria da história da Universidade de São Paulo (USP) , Elias Thomé Saliba ,
autor do livro “As Raízes do Riso “ , que
investiga as raízes do humor no Brasil ; a comédia feita por nós é impregnada
por duas características marcantes da sociedade brasileira: a confusão entre as
esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional. E
ainda , de acordo com o autor , que "O
humor brasileiro é reflexo da nossa falta de identidade".
O humor , em
geral, é quase sempre caricatural, mas
pode ser também cruel.Ele expõe limitações, defeitos e faz rir , ao mesmo tempo em que pode
insultar. E quando insulta, é a forma mais preconceituosa de humor, a mais
fácil e que menos criatividade exige, apenas reproduzindo o conservadorismo da sociedade
em forma de piada e , exatamente por isso, é o humor em seu nível mais baixo.
No Brasil atual,
a SUPOSTA liberdade de ser politicamente incorreto acabou se tornando
uma ótima desculpa para humorista ruim fazer carreira. É bom lembrar que a
história está repleta de desculpas aparentemente perfeitas que serviram muito bem para provocar guerras,invadir nações, violentar, oprimir e espoliar povos ; haja
vista o que Israel , atualmente –com a devida desculpa do holocausto – impõe aos
palestinos (verdadeiros donos da região) e com o aval da ONU . O holocausto
foi, de fato, um dos maiores genocídios da humanidade , porém , utilizá-lo como
desculpa ideológica para promover exatamente o mesmo contra outros povos, constitui
uma trágica ironia histórica , cujo início se deu pela má interpretação e o mau uso do politicamente incorreto, ou do medo dele.
Fenômeno
aparentemente novo , embora o humor “stand
up” tenha se transformado em uma espécie de febre por aqui, ele na verdade é
exercitado desde a década de 1960, por meio do já falecido humorista José
Vasconcellos, além de outros como Jô Soares e Chico Anysio. Apesar disso, o
estilo parece ter renascido como
novidade em meados dos anos 2000 , revelando novos nomes como os dos integrantes
do CQC ,na Band , além do grupo de
Marcelo Adnet ,os quais , por meio da internet , obtiveram alguma notoriedade e
audiência mas também críticas e debates
sobre seus textos ou improvisos. Segundo Saliba, "Em algumas épocas, sobretudo as de forte
censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação
intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão";
entretanto , o que se vê, sob o manto do
direito ao politicamente incorreto (talvez resquícios
de traumas de nossa história recente,relacionada a tempos de censura ), são
piadas rasas e carregadas de um alto teor de bullying , defendidas por alguns destes
novos “comediantes” como sendo humor , quando , na verdade, o que deveria estar
em jogo e sendo discutido seria a qualidade artística – inexistente - do texto.
Assim, o que não só diferencia mas também separa comediantes ruins dos bons humoristas e dos consagrados comediantes
de stand-up (há alguns muito bons) , não é o tom politicamente incorreto mas
sim a péssima qualidade de suas piadas que , de tão baixas, tem-se a nítida
sensação de que , por exemplo, comediantes como Danilo Gentilli e Rafinha Bastos, estejam simplesmente
proferindo ofensas como se estivessem no pátio de uma escola praticando bullying , sem apresentar algo realmente criativo ou exercer qualquer conteúdo
crítico sobre a atualidade.Com este expediente, a fama de alguns humoristas parece ter
sido construída, basicamente , ofendendo pessoas públicas , pegando carona na fama alheia . Há quem os defenda? Sim, há. Entretanto,
quase sempre baseados no mesmo tipo de argumentação falha e carente de
sustentação mínima, afinal, usam o mesmo
argumento infundado de que não se possa
cercear o humor politicamente incorreto, quando na verdade deveria se mencionar
a qualidade da piada ou a falta de conteúdo
crítico sobre a atualidade .
Estou exagerando
? Bem, vamos lá então. Na frase (piada?) de Rafinha
Bastos, no programa CQC da Band , sobre a beleza da cantora Wanessa Camargo,
que estava , à época, grávida do
primeiro filho : "Eu comeria ela e o
bebê" ; ou ainda : "A
criatura tem pelo, é feia, fede a enxofre e não posso chamar de demônio? Tem de
chamar de Heloísa Helena?"
(Danilo Gentili, em cena do 'espetáculo' Danilo Gentili Politicamente Incorreto)
e : "Eu não me importo com o que os
psicólogos dizem: seu filho não é autista. Ele é simplesmente burro. Ou preguiçoso.
Ou ambos " Enfim, que
tipo de criatividade humorística podem ter frases como essas ? Que tipo de conteúdo
crítico , que muitas vezes só o humor
pode despertar, pode ser observado nestas “piadas” ? A liberdade de ser politicamente incorreto acabou se tornando uma
ótima desculpa para humorista ruim .
Ok, o
preconceito está na sociedade e o humor
dialoga com o preconceito. Tá ! Mas este diálogo não está livre de certas discussões.
O humor pode reforçar – ou não – os
estereótipos. Ele busca o reconhecimento, o aplauso e o riso. O prazer do riso advém da capacidade de conquistar a plateia . Qual é o caminho
mais fácil para esta conquista? Para alguns humoristas , a forma mais fácil de
provocar risadas é investir no preconceito, nos estereótipos. Se estes
estereótipos são compartilhados pela maioria, basta falar o que a maioria quer
ouvir. Assim, o humorista se desresponsabiliza com o argumento de que está apenas resgatando
algo que já estava presente na mente de quem riu e transfere o ônus ( e portanto reconhece que há
um ônus para alguém) para o público . Mas , se está na cabeça de quem riu ,e em
certa medida até no inconsciente coletivo,também está na de quem fez a piada. Mas
o pretenso humorista , ao agir assim, tenta descomprometer-se, preferindo imaginar que seu discurso é neutro e ou apenas reproduz os valores dos outros. O "humorista" Danilo Gentili , certa
feita, ao arrancar risadas com uma de suas piadas disse que a platéia não deveria ter rido. Ora , assim
sendo, se não era para rirem, por que então decidiu contá-la ? Segundo ele, porque o público ri , concluindo
de forma simplista que o grande errado
da história é quem ri e não quem conta a suposta "piada" ,
tentando isentar-se do fato, como se fosse possível.
Uma sociedade
livre deve conceder espaço para que opiniões ofensivas e humilhantes possam ser
proferidas em público ?
.............Então,
do que é que você anda rindo ?
“Nada descreve melhor o caráter dos
homens do que aquilo que eles acham ridículo.”
J. Goethe.
homens do que aquilo que eles acham ridículo.”
J. Goethe.
E aos que possam
achar que estou implicando
com o gênero Stand
up, deixo aqui o vídeo de um COMEDIANTE que ,
de fato , valeu-se de sua
liberdade de expressão e ousadia para
uma apresentação de muita sensibilidade, conteúdo ,sentido e HUMOR ; e que , sem falar português (e menos ainda alemão...rrsss) acrescenta algo a quem assiste e cuja inspiração não poderia ser ninguém menos que Charles Chaplin, que em toda sua extensa arte
jamais precisou denegrir alguém para fazer sucesso no mundo inteiro:
Fábio Rabin - "Hitler"
www.fabiorabin.com.br
www.fabiorabin.com.br
Personagem de Fábio Rabin “Hitler” no show
anual de Halloween do “Comédia ao Vivo”.
Fábio Rabin se diz judeu e menciona como
referência de trabalho o seu ídolo
Charles Chaplin.
Talvez exatamente isso o diferencie dos "outros".
Mary Lúcia Oliveira.
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