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Colunista:

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domingo, 17 de janeiro de 2016

Riso Fácil.



Não é só na política que flertamos com o fascismo, nosso humor também parece ter sido contaminado por  ele.

Apesar de não muito desconectado dos modelos estrangeiros, o humor brasileiro tem as suas particularidades. Segundo o titular de teoria da história da Universidade de São Paulo (USP) , Elias Thomé Saliba , autor do livro “As Raízes do Riso “ ,  que investiga as raízes do humor no Brasil ; a comédia feita por nós é impregnada por duas características marcantes da sociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional. E ainda , de acordo com o autor , que "O humor brasileiro é reflexo da nossa falta de identidade".


O humor , em geral, é quase sempre caricatural,  mas pode ser também cruel.Ele expõe limitações, defeitos  e faz rir , ao mesmo tempo em que pode insultar. E quando insulta, é a forma mais preconceituosa de humor, a mais fácil e que menos criatividade exige, apenas reproduzindo o conservadorismo da sociedade em forma de piada e , exatamente por isso, é o humor em seu nível mais baixo.


No Brasil atual, a SUPOSTA  liberdade de ser  politicamente incorreto acabou se tornando uma ótima desculpa para humorista ruim fazer carreira. É bom lembrar que a história está repleta de desculpas aparentemente perfeitas que serviram  muito bem  para  provocar guerras,invadir nações,  violentar, oprimir e espoliar povos ; haja vista o que Israel , atualmente –com a devida desculpa do holocausto – impõe aos palestinos (verdadeiros donos da região) e com o aval da ONU . O holocausto foi, de fato, um dos maiores genocídios da humanidade , porém , utilizá-lo como desculpa ideológica para promover exatamente o mesmo contra outros povos, constitui uma trágica ironia histórica , cujo início se deu pela má interpretação e o  mau uso do  politicamente incorreto, ou do medo dele.





Fenômeno aparentemente novo , embora o humor “stand up” tenha se transformado em uma espécie de febre por aqui, ele na verdade é exercitado desde a década de 1960, por meio do já falecido humorista José Vasconcellos, além de outros como Jô Soares e Chico Anysio. Apesar disso, o estilo parece ter  renascido como novidade em meados dos anos 2000 , revelando novos nomes como os dos integrantes do CQC ,na Band , além do  grupo de Marcelo Adnet ,os quais , por meio da internet , obtiveram alguma notoriedade e audiência  mas também críticas e debates sobre seus  textos  ou improvisos. Segundo Saliba, "Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão";  entretanto , o que se vê, sob o manto do direito ao politicamente incorreto (talvez resquícios de traumas de nossa história recente,relacionada a tempos de censura ), são piadas rasas e carregadas de um alto teor de bullying , defendidas por alguns destes novos “comediantes” como sendo humor , quando , na verdade, o que deveria estar em jogo e  sendo discutido seria a qualidade artística – inexistente - do texto.

Assim, o que  não só diferencia  mas também separa comediantes  ruins dos bons humoristas e dos consagrados comediantes de stand-up (há alguns muito bons) , não é o tom politicamente incorreto mas sim a péssima qualidade de suas piadas que , de tão baixas, tem-se a nítida sensação de que , por exemplo,  comediantes como Danilo Gentilli  e Rafinha Bastos, estejam simplesmente proferindo ofensas como se estivessem no pátio de uma escola praticando bullying , sem apresentar algo  realmente criativo ou exercer qualquer conteúdo crítico sobre a atualidade.Com este expediente, a fama de alguns humoristas parece ter sido construída, basicamente , ofendendo pessoas públicas ,  pegando  carona na fama alheia . Há quem os defenda? Sim, há. Entretanto, quase sempre baseados no mesmo tipo de argumentação falha e carente de sustentação mínima, afinal,  usam o mesmo argumento  infundado de que não se possa cercear o humor politicamente incorreto, quando na verdade deveria se mencionar a qualidade da piada ou   a falta de conteúdo crítico sobre a atualidade .

Estou exagerando ? Bem, vamos lá então. Na frase (piada?)  de Rafinha Bastos, no programa CQC da Band , sobre a beleza da cantora Wanessa Camargo, que estava , à época,  grávida do primeiro filho : "Eu comeria ela e o bebê" ; ou ainda : "A criatura tem pelo, é feia, fede a enxofre e não posso chamar de demônio? Tem de chamar de Heloísa Helena?"    (Danilo Gentili, em cena do 'espetáculo' Danilo Gentili Politicamente Incorreto) e : "Eu não me importo com o que os psicólogos dizem: seu filho não é autista. Ele é simplesmente burro. Ou preguiçoso. Ou ambos "  Enfim,  que tipo de criatividade humorística podem ter  frases como essas ? Que tipo de conteúdo crítico , que  muitas vezes só o humor pode despertar, pode ser observado nestas “piadas”  ? A liberdade de ser  politicamente incorreto acabou se tornando uma ótima desculpa para humorista ruim .

Ok, o preconceito  está na sociedade e o humor dialoga com o preconceito. Tá ! Mas este diálogo não está livre de certas discussões. O humor pode reforçar – ou não – os estereótipos. Ele busca o reconhecimento, o aplauso e o riso. O prazer do riso  advém da capacidade de conquistar a plateia . Qual é o caminho mais fácil para esta conquista? Para alguns humoristas , a forma mais fácil de provocar risadas é investir no preconceito, nos estereótipos. Se estes estereótipos são compartilhados pela maioria, basta falar o que a maioria quer ouvir. Assim, o humorista se desresponsabiliza  com o argumento de que está apenas resgatando algo que já estava presente na mente de quem riu e  transfere o ônus ( e portanto reconhece que há um ônus para alguém) para o público . Mas , se está na cabeça de quem riu ,e em certa medida até no inconsciente coletivo,também está na de quem fez a piada. Mas o pretenso humorista , ao agir assim, tenta descomprometer-se, preferindo imaginar que seu discurso é neutro e ou apenas reproduz os valores dos outros. O "humorista" Danilo Gentili , certa feita, ao arrancar risadas com uma de suas piadas disse que  a platéia não deveria ter rido. Ora , assim sendo, se não era para rirem, por que então decidiu contá-la ? Segundo ele, porque o público ri , concluindo de forma simplista  que o  grande  errado da história  é quem ri e não quem conta a suposta "piada" , tentando isentar-se do fato, como se fosse possível.




Uma sociedade livre deve conceder espaço para que opiniões ofensivas e humilhantes possam ser proferidas em público ?



.............Então, do que é que você anda rindo  ?



“Nada descreve melhor o caráter dos
 homens do que aquilo que eles acham ridículo.”    
J. Goethe.



E aos que possam achar que estou implicando
 com o gênero Stand up, deixo aqui o vídeo de um COMEDIANTE que , 
de fato , valeu-se de sua liberdade de expressão e ousadia para  uma apresentação de muita sensibilidade, conteúdo ,sentido e HUMOR ;  e que , sem falar português (e menos ainda alemão...rrsss) acrescenta algo a quem assiste e  cuja inspiração não poderia ser ninguém menos que Charles Chaplin, que em toda sua extensa arte jamais precisou denegrir alguém para fazer sucesso no mundo inteiro:


Fábio Rabin - "Hitler"
www.fabiorabin.com.br

Personagem de Fábio Rabin “Hitler” no show anual de Halloween do “Comédia ao Vivo”.
Fábio Rabin se diz judeu e menciona como referência de  trabalho o seu ídolo Charles Chaplin.
Talvez exatamente isso o diferencie dos "outros".




Mary Lúcia Oliveira.

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