Vou
confessar um pecado – quase um crime - e
não espero contar com a benevolência de vosso julgamento, caro leitor . O crime
? NÃO
VI TITANIC !
E
daí ?Embora já tenha pagado minha
dívida com a sociedade (reclusão social de vários meses pós filme à época ......ninguém
conversa com quem não assiste a um filme desses...), vira e meche sou cobrada
por isso, como ontem, numa roda de amigos. Sei que é um filme emblemático, que sempre
será mencionado em alguma roda social, que produziu imagens icônicas no cinema
, blá-blá-blá......e blá.... ... mas , ainda assim, não pretendo assisti-lo . Sigo
incólume.
Falo
do Titanic com Di Caprio. Sim, porque
“Titanics” são vários e o de minha infância foi suficiente . Titanics são como
o inferno da semana santa com o perrengue de Jesus Cristo que não acaba
nunca . Aliás, odeio Semana Santa! E isso também acontece com o carnaval ; mas
já odiei mais ... Hoje, com o advento da TV a cabo , consigo passar por estes
eventos – infernalmente cíclicos - com
menos tédio.
Sinceramente
, qual a graça de assistir a um filme que TODO
MUNDO conhece o final e que , aliás, “vamo combiná ” , ainda que
tenha cenas românticas , é sinistro
..........e o mocinho morre no final, juntamente a outros tantos desafortunados... E se você já sabe o final – trevoso
como esse – POR QUE ASSISTI-LO ??????? Seria alguma espécie de auto-punição,
masoquismo ou talvez algo mais geral como a atração de um inconsciente coletivo relacionado a tragédias?
O
conceito de Inconsciente Coletivo foi criado pelo psiquiatra suíço C. G.
Jung que ampliou o conceito de inconsciente(pessoal) de Freud após
discordar de algumas ideias dele. Numa definição menos glamorosa, o
inconsciente , grosso modo, seria o que não sabemos de nós mesmos ;
tendo Jung ampliado o conceito de inconsciente fazendo uma distinção entre Inconsciente
Pessoal ,que Freud havia estudado ( no qual encontramos o que foi recalcado,
escondido, esquecido e que continua lá em nosso inconsciente , reaparecendo em
sonhos, atos falhos ou até em sintomas físicos ou psíquicos) e Inconsciente Coletivo (que não
representa o que eu vivi, mas o que a humanidade como um todo viveu ; forma de pensamento
universal com carga afetiva que é herdada , dando origem às fantasias
individuais e às mitologias de todas as épocas).
É
nesse emaranhado inconsciente que vivem as
imagens arquetípicas ou “imagens primordiais” ou arquétipos ,originadas de uma repetição progressiva de
uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas nesse inconsciente
coletivo. As principais estruturas formadoras de nossa personalidade são
arquétipos.Temos em nosso imaginário, desde criança , exemplos de arquétipos como o da morte, do herói,do fora
da lei e outros tantos que fazem parte de nosso inconsciente coletivo e, independentemente de
religião ou do lugar de onde se venha , essas imagens serão sempre muito comuns
a todos e entrarão na composição dos mitos , contos de fadas, de horror ou lendas que transmitimos de geração a geração,
pois a função dessas histórias é trazer
à tona o que está no inconsciente e
cujas influências se expandem para além da psique humana , indo se aninhar até
mesmo nos filmes e na publicidade...
Bem,
recusar-me a assistir Titanic não é apenas uma decisão
antissocial num exercício consciente de minha tripolaridade . Estou apenas
tentando escapar desse inconsciente coletivo trágico, desse prazer mórbido ao
visualizar tragédias , rejeitando parte dessa herança atávica (ainda que sejam
impulsos naturais humanos ),tentando superar algumas dessas imagens
trágico-arquetípicas,submersas nesse nosso inconsciente coletivo, reprimido
pela religião , pela sociedade e pelos
poderes constituídos ou camuflados.
Em
tempo : Di Caprio ainda é uma bela figura ; mas prefiro vê-lo hoje , mais
maduro, como em O Lobo de Wall Street - que
ainda não vi – mas vou ver ...
Mary Lúcia Oliveira.
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