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Colunista:

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domingo, 10 de janeiro de 2016

Micos Retroativos.



Sou de uma época em que segredo  a dois não era  mais segredo, por óbvio. Porém, escondê-lo consigo  mesma costumava ser  suficiente ou , existindo provas materiais ( fotos, filmes, cartas...) , bastava guardá-las devidamente em algum cofre , gaveta  ou  baú com chave...). No máximo  seria conhecido após sua morte ou  por um descuido qualquer ou azar .





E nossos “micos”? Ah ! Ficavam registrados apenas  em fotos físicas ou em filmes sobre os quais tínhamos algum poder de ocultá-los e que , um dia , seriam esquecidos  ou se deteriorariam ou não existiriam mais aquelas tecnologias ultrapassadas para que fossem revistos ; haja vista o quase fim nada trágico da fita cassete , da fita VHS de vídeo, das fotos impressas ...  Bons tempos aqueles !



Mas, e essa nova geração ? Daqui a alguns anos, quando já tiverem aquela noção - que só o tempo dá   -  de que pagamos alguns “micos” dos quais nos arrependemos depois de algum tempo e a vida inteira , terão eles a chance de ter seus  micos  devidamente guardados em algum lugar esquecido do passado ? Talvez  não.

Com o advento da internet e  dos fotógrafos amadores via celular(todos nós), nada passa impune e os micos se tornaram  retroativos e cíclicos . Ao menor deslize seu  - e convenhamos , a juventude é a época mais propícia e fecunda aos deslizes -  lá estarão a internet e os tais “fotógrafos” , a postos , para registrar o evento apoteótico de auto-humilhação e o tornar  inesquecível , persistente e recorrente.

















                                 



Pouco tempo atrás , vergonha alheia (aquela vergonha que você sente ao presenciar alguém fazendo algo constrangedor ) era um sentimento bastante comum. Quando sentimos “vergonha alheia” , algumas células de nosso cérebro simulam tudo que está acontecendo a nossa volta, dando a sensação de que estamos fazendo aquilo que está sendo presenciado e , por isso , sentimos uma certa vergonha imediata ou vergonha alheia,  servindo para que você pense duas vezes antes de sair fazendo qualquer coisa em  público. Mas este sentimento parece estar  desaparecendo e dando lugar a uma espécie  de prazer mórbido de reproduzir a cena “ad eternum” e , por mais estranho que pareça , na maioria das vezes, com um certo consentimento tácito da “vítima” -  como se visse em seu “fotógrafo” o mentor de seus quinze minutos de fama – cada vez mais  necessários para a existência desse “novo ser
 moderno” ; ainda que isto o leve aos  píncaros do ridículo e venha persegui-lo por décadas.










Não costumo ser saudosista, mas tenho a impressão de que já fomos humanos melhores....
... ao menos nisso... 
Mary Lúcia Oliveira.


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