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Colunista:

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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A Idiossincrasia do Retorno



Após ter visto a palestra da Márcia Tiburi , postada aqui dias atrás, comecei a cogitar a possibilidade de abrir uma conta no facebook; mas fui salva por um comentário jocoso e providencial de um amigo: “Ah, vai ter que curtir todas as minhas fotos!”

Por alguns segundos, imaginei-me (tenho a mania tosca de imaginar cenas e diálogos...) , obrigando-me a perder um tempo precioso de minha vida ,curtindo fotos para não desagradar o ego de ninguém. Desisti. 

Como é bom ter amigos! Especialmente os que te conhecem...

Sou uma criatura , como muitos já sabem, que não possui "facebook" (também não tive "orkut"). Por motivos vários mas, sem dúvida, os maiores deles: falta de paciência com frivolidades e  sensação de extrema  perda de tempo e energia com inutilidades e aparências.

Além disso, certas idiossincrasias me cansam, especialmente esta moderna a que chamo de idiossincrasia do retorno ou da necessidade de se obter uma espécie de aprovação pública.

Idio... o quê , Mary ? 
Idiossincrasia ! 

Conforme definição de dicionário, idiossincrasia: “característica de comportamento peculiar de um indivíduo ou de determinado grupo”. Em sua origem etimológica  grega , temos:  idiossincrasia (ἰδιοσυγκρασία -idiosynkrasía) ou “temperamento peculiar”, composto de ἴδιος (idios)“peculiar” e σύγκρασις(synkrasis), ‘mistura’ “ .

Um exemplo clássico de idiossincrasia  é dizer que todos os brasileiros gostam de futebol e samba, como se fosse uma característica particular do povo brasileiro. No entanto, existem brasileiros que não apreciam futebol ou mesmo  samba, não se podendo dizer que não sejam  brasileiros por isso.

Na prática, este termo adquire várias nuances , dependendo do contexto em que esteja sendo  empregado, podendo assumir significados como:  característica, particularidade e até alergia, entre outros tantos , já que a palavra pode estar assimilada em várias áreas como na medicina, na psicanálise, na economia , etc.

Não é à toa que a idiossincrasia é responsável pela criação de estereótipos em grupos sociais. A própria comédia observacional costuma ter um certo embasamento em idiossincrasias, afinal, o comportamento de certas pessoas  pode revelar-se bastante engraçado e produzir tipos interessantes para comediantes atentos, inclusive capturando tipos pelas redes sociais.


Mas não me parece muito divertido ver tantos egos escancarados , por exemplo, humilhando-se por um “like” ,  acintosamente expostos  numa  vitrine  nem sempre  muito  dignificante, embora
quase nunca  percebam tal fato ou a utilizem de maneira não degradante. Hoje o conceito de degradante parece perfeitamente contornável diante da perspectiva de aprovação pública, possibilitada por uma vitrine de egos como o “face”.


Degradante , Mary ? Isso não ficou forte demais ?  

Sim , talvez tenha sido uma definição meio extremada  , mas poucos conseguirão compreender o alcance disso mesmo, então, tanto faz..


Essa “idiossincrasia do retorno” ,ou a aprovação ansiosa de um “like” , tem produzido egos muito frágeis , dependentes de um aplauso  que não é exatamente verdadeiro , afinal , o “like” será dado , na maioria das vezes, apenas porque o outro espera  recebê-lo de volta. É quase um acordo tácito entre as partes , num teatro coletivo  com cenas e cenários muito bem marcados...







(...)





Tim Maia vivia pedindo retorno, mas ele viveu num tempo “pré-internético“  e,  apesar de tudo, ele podia... ...Pedir retorno era realmente parte do seu show...



 Mary Lúcia Oliveira.

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