Após ter visto a palestra da Márcia Tiburi , postada aqui dias atrás, comecei
a cogitar a possibilidade de abrir uma conta no facebook; mas fui salva por um
comentário jocoso e providencial de um amigo: “Ah, vai ter que curtir todas as minhas fotos!” .
Por alguns
segundos, imaginei-me (tenho a mania tosca de imaginar cenas e diálogos...) ,
obrigando-me a perder um tempo precioso de minha vida ,curtindo fotos para não
desagradar o ego de ninguém. Desisti.
Como é bom ter amigos! Especialmente os
que te conhecem...
Sou uma criatura , como muitos já sabem, que não possui "facebook" (também não tive "orkut"). Por
motivos vários mas, sem dúvida, os maiores deles: falta de paciência com
frivolidades e sensação de extrema perda de tempo e energia com inutilidades e
aparências.
Além disso, certas idiossincrasias me cansam, especialmente esta moderna a
que chamo de idiossincrasia do retorno ou da necessidade de se obter uma
espécie de aprovação pública.
Idio... o quê , Mary ?
Idiossincrasia !
Conforme definição de dicionário,
idiossincrasia: “característica de
comportamento peculiar de um indivíduo ou de determinado grupo”. Em sua
origem etimológica grega , temos: idiossincrasia (ἰδιοσυγκρασία -idiosynkrasía)
ou “temperamento peculiar”, composto de ἴδιος (idios)“peculiar” e
σύγκρασις(synkrasis), ‘mistura’ “ .
Um exemplo clássico de idiossincrasia
é dizer que todos os brasileiros gostam de futebol e samba, como se
fosse uma característica particular do povo brasileiro. No entanto, existem
brasileiros que não apreciam futebol ou mesmo samba, não se podendo dizer que não sejam brasileiros por isso.
Na prática, este termo adquire várias nuances , dependendo do contexto
em que esteja sendo empregado, podendo
assumir significados como:
característica, particularidade e até alergia, entre outros tantos , já
que a palavra pode estar assimilada em várias áreas como na medicina, na
psicanálise, na economia , etc.
Não é à toa que a idiossincrasia é responsável pela criação de
estereótipos em grupos sociais. A própria comédia observacional costuma ter um
certo embasamento em idiossincrasias, afinal, o comportamento de certas
pessoas pode revelar-se bastante
engraçado e produzir tipos interessantes para comediantes atentos, inclusive
capturando tipos pelas redes sociais.
Mas não me parece muito divertido ver tantos egos escancarados , por
exemplo, humilhando-se por um “like” , acintosamente expostos numa vitrine nem sempre muito dignificante, embora
quase nunca
percebam tal fato ou a utilizem de maneira não
degradante. Hoje o conceito de degradante parece perfeitamente contornável
diante da perspectiva de aprovação pública, possibilitada por uma vitrine de
egos como o “face”.
Degradante , Mary ? Isso não ficou forte demais ?
Sim , talvez tenha sido uma definição meio extremada
, mas poucos conseguirão compreender o
alcance disso mesmo, então, tanto faz..
Essa “idiossincrasia do retorno” ,ou a aprovação ansiosa de um “like” , tem
produzido egos muito frágeis , dependentes de um aplauso que não é exatamente verdadeiro , afinal , o “like”
será dado , na maioria das vezes, apenas porque o outro espera recebê-lo de volta. É quase um acordo tácito entre as partes , num
teatro coletivo com cenas e cenários muito bem marcados...
(...)
Tim Maia vivia pedindo retorno, mas ele viveu num tempo
“pré-internético“ e, apesar de tudo, ele podia... ...Pedir retorno era
realmente parte do seu show...
Mary Lúcia Oliveira.
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