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Colunista:

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sábado, 29 de agosto de 2015

Perdoar é Assustador !




Perdão não é coisa de gente santificada, abnegada ou perfeita. Perdão é coisa de gente esperta, descolada, evoluída .Ou pelo menos deveria ser...


Só que não. A maioria das pessoas perdoa com as intenções erradas ,têm uma relação dúbia com o perdão: admiram quem perdoa  ao mesmo tempo em que as consideram como,digamos ; ridículas, otárias mesmo. Na verdade um misto de otário e legal.





Mas ser um otário legal pode render dividendos. Alguém que pratique o perdão social , aquele, por exemplo, do(a) traído (a)que perdoa uma traição e todo mundo sente por ele(a) admiração e pena ao mesmo tempo, que aceita as traições do(a) cônjuge , alegando que sua religião , o padre ou o  pastor o tenha aconselhado a perdoar -  colhe certos frutos - afinal , não precisará se separar e dividir os bens e rebaixar seu poder aquisitivo , além de  ficar “bem na fita” , despontando socialmente como criatura abnegada , quase santificada...       ... embora , pessoalmente , tenha de engolir:  a dúvida , a desconfiança (que depois deste “perdão”  será eterna , porém devidamente disfarçada) e a possibilidade de demonstrar a frustração que sentirá  (afinal, perdoou  e tem de manter seu teatro)até , provavelmente, o final de seus dias.


A religião parece ser  realmente muito importante  na vida das pessoas....Oferece o álibi perfeito para quem não está muito a fim de mudanças ou com preguiça de mudar , ou ainda, já se considera "naquela" idade em que mudar se apresenta como algo bastante complicado. Alguém falou em fé? Não , religião.

Aliás, falando-se ou não  em fé, também tenho a minha. Ela não move  montanhas ( bem, na verdade  não tentei, ainda...) mas é a minha fé. Tenho lá algumas crenças,  porém  sou avessa  a religiões , dogmas ou  formalismos religiosos de toda sorte. Eles só diminuem a experiência com o divino , creio eu. Mas, ainda no que se refere à fé , a minha sempre  tentei  experienciá-la  de maneira racional , embora haja quem não entenda como pode vir a ser isso. Bem , vou tentar explicar, voltando ao perdão.
  
As explicações acerca do perdão ,sob a ótica  do divino,  que mais me cooptaram ( não pela  historinha moralizante que  me obrigue  a crer em um enredo que ,apesar de verossímil , é quase sempre  fantástico  demais ou tem apenas um caráter “parabolesco-didático” - e que portanto carece de ser crível  no terreno da  lógica)  mas pela , digamos , “verossimilhança-lógica” (vou chamar assim),foram as da doutrina espírita  kardecista , por exemplo (que ainda assim, doutrina,e portanto –para meu espírito livre - desnecessária ),  na qual a questão do perdão fica perfeitamente explicável sob o ponto de vista do imponderável religioso :

No kardecismo exercita-se o que chamo de lógica doutrinário-religiosa, como esta acerca das reencarnações (equívocos - consequências - reparações - aprendizado).

 (...) “...O que ocorre é que a existência do espírito é única; as existências corpóreas é que são múltiplas, mas o ser integral é sempre o mesmo. As múltiplas existências corpóreas cumprem a finalidade de estágios de aprendizado, na verdade degraus de aperfeiçoamento.

Como estamos todos em aprendizados, cometemos equívocos. Tais equívocos geram conseqüências. Tais conseqüências podem redundar em prejuízos para nós mesmos ou para terceiros. E tais prejuízos devem ser reparados. Isto é das Leis Divinas.

Tais reparações nós as devemos à nossa própria consciência, à vida. E, neste processo, podemos nos encontrar em situações aflitivas, decorrentes todas dos equívocos que nos envolvemos.

Porém, tudo isso, não se refere a outro ser que viveu noutro tempo e que, aparentemente nenhum vínculo com ele mantemos. Não! Somos nós mesmos que agíamos nesta caminhada de aprendizados e que trazemos nas lembranças e registros, ainda que inconscientes, a necessidade dessas reparações que ora se apresentam na atualidade consciente que estamos vivendo.

Assim funciona a Lei da Reencarnação. Os filhos de Deus estagiam em diversas existências corpóreas (visando o próprio progresso, repetimos), habitando países e corpos diferentes, mas a individualidade é a mesma, razão pela qual carrega consigo seu patrimônio moral e intelectual, bem como as reparações devidas aos equívocos praticados com prejuízos para si mesmo ou para terceiros.

Então, não se trata de uma questão de pagar, mas de conquistar a paz de consciência. Quando constatamos, antes da presente encarnação, que prejudicamos alguém ou a nós mesmos, solicitamos que a próxima encarnação propicie os mecanismos de reparação.

Esses mecanismos podem apresentar-se com a aparência de enfermidades, limitações físicas, dificuldades materiais, obsessões, entre outras.

E a visão distorcida sobre os princípios espíritas gera a errônea ideia de que estamos no mundo para pagar... Renascemos simplesmente para dar continuidade ao processo evolutivo. Mas, como ontem (aqui significado existências corpóreas) nos alimentamos em excesso, hoje (atualidade que estamos vivendo da presente encarnação) poderemos estar enfrentando uma forte dor de estômago ou até uma incômoda diarreia, simplesmente como conseqüência imediata da gula. Agora peço ao leitor substituir o exagero da alimentação pelas diversas situações que podem ser imaginadas, em outros exemplos. O exemplo da alimentação é apenas comparativo.

Assim também nos prejuízos, de qualquer ordem, causados a terceiros.

Criamos vínculos com eles e os trazemos em nós através de conseqüências que também podem ser apresentar com diversas aparências. Isto é apenas a reação de uma ação.

E o assunto ainda pode ser ampliado na visão dos aprendizes negligentes.

Negligência no passado ou mesmo no presente. Tarefas adiadas, desprezadas, abandonadas... Tudo traz reflexos. Afinal colhemos hoje as ações de ontem e estamos continuamente semeando para o amanhã.


Por outro lado, a título de ilustração do assunto, solicito ao leitor considerar também que nem todo equívoco passado pode apresentar-se atualmente através de dificuldades. Muitas vezes, equívocos podem ser reparados através de trabalho e dedicação a causas e pessoas. Isto tudo porque, conforme já sabemos, ‘o amor cobre a multidão de pecados’ “.

 http://www.redeamigoespirita.com.br/profiles/blog/show?id=2920723%3ABlogPost%3A1177850



Assim, a questão do perdão vai mais além do simples perdoar. Afinal, o perdoado - exatamente por ter recebido o perdão -  tende a acreditar que  escapará desta possível aprendizagem/reparação futura (nesta ou em outras supostas vidas);  até por que , aceitar que o que se faz a alguém , mesmo tendo sido perdoado    (inclusive  por um Deus religioso de qualquer religião),  será posteriormente revisado e reparado é bastante complicado . Para  " o perdoado",é  aterrorizante  admitir  que haja - mesmo após o perdão- REPARAÇÕES DEVIDAS AOS EQUÍVOCOS COMETIDOS , como forma de aprendizado/evolução.





Difícil aceitar que ainda se deva algo à dinâmica do universo, mesmo após ter sido convenientemente perdoado por alguém ou por um Deus qualquer.  
      

       
 Isto é nitroglicerina pura a implodir as certezas religiosas mais consolidadas do "faça hoje e seja perdoado por Deus amanhã".



E eu que pensei que o espiritismo era mesmo rejeitado por suas assustadoras explicações e ocorrências acerca dos espíritos... 




  



Que nada !
O medo é bem outro !


Mary  Lúcia  Oliveira.

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