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Colunista:

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domingo, 23 de agosto de 2015

Linguagem Nada Lúdica -Piadas Sem Graça


A linguagem é mais poderosa do que usualmente percebemos.
A língua de um povo pode ser utilizada, por exemplo, como instrumento de dominação sobre outro;  bem como,  resistir à assimilação de uma língua , em casos de guerra, pode significar a sobrevivência de uma nação e sua cultura.


Mas há processos bem menos óbvios que, para serem notados, seria necessário não apenas o exercício da observação como, na maioria das vezes, ser vítima (consciente) deles ; haja vista, a título de exemplificação, o processo contínuo e  nefastamente  “lúdico” de rebaixamento social da mulher por meio da linguagem, representada principalmente pelas piadas e palavrões  machistas ( instrumentos machistas)e suas implicações práticas na organização social ainda muito patriarcal , embora em transição.


“Lá vem ela de novo com seu blá- blá - blá feminista !"  Não , leitor, estou falando de humilhação , de injustiças e de violência. Contra a mulher apenas? Não , caro leitor, como já mencionei outras vezes , há respingos e rescaldos por toda parte...

"FODA-SE MACHISTA DE MERDA ! "


Constatada a obviedade do machismo em certas piadas , vamos analisar os palavrões (palavrão é linguagem? Ô se é !!!) mais comuns quando queremos xingar alguém de modo geral:


Quando se xinga tanto homens quanto mulheres(especialmente homens) :

- Filho da puta !

 - corno ! 
  
Quando se xinga apenas mulheres:

 - Mal- amada!
 -puta !
 -vagabunda !
 -piranha !
 -vadia!

Para um bom observador,salta aos olhos que a ofensa no caso doFilho da puta!” e do“corno!" não é exatamente  direcionada  ao ser a quem se quer ofender. Ofende-se basicamente aí , a mulher que deu origem à criatura a ser ofendida, ofendendo-se a moralidade de sua progenitora. Entretanto , o homem ainda se sente ofendido , e por quê ? Está bem escondido, mas está lá, tanto nos vocábulos quanto em suas reais intenções: ofender não a pessoa do macho em questão,mas sua incapacidade de se cercar de mulheres que não sejam “vadias” .Ou seja, o referido macho  estaria com os seus brios de macho ferido por não ter executado sua tarefa de controlar  suas fêmeas direito. Enfim, em nossa sociedade, para se ofender o macho deve-se rebaixar a(s) fêmeas que o cercam – não ele.


Já no caso específico das ofensas à mulher, a intenção é mais clara : punir socialmente a sexualidade feminina , controlá-la , ou fazer com que ela se acredite  inferior (mal-amada)  por supostamente não ter as atenções do ser masculino , privilegiado pela linguagem machista de uma sociedade ainda muito patriarcal, apesar de todos os avanços trazidos pela luta feminista.




Apesar de tais constatações , quase sempre que se mencione  procedimentos linguísticos de controle social da mulher e a necessidade de mudanças neste campo  , aparece alguém - tanto o machista quanto a fêmea equivocada/controlada  -  para dizer que isso é exagero , coisa de feminista “mal-amada”, num contínuo celebrar da sexualidade masculina em detrimento da feminina (vigiada e punida). Entretanto, nada  pode ser mais machista e retrógrado,impedindo que a sociedade  se torne melhor e mais evoluída .   


Infelizmente, a típica e retrógrada frase “...prenda suas cabritas que meu bode está solto”  ,  ainda é atual e constrangedoramente  repetida , assim como as piadas e palavrões machistas, até e infelizmente  , pelas fêmeas controladas e vítimas desse sistema.



Mary  Lúcia  Oliveira.

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