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Colunista:

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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Literatura - O Imponderável, o Real e o “Face” !






Reflexo de tempos “facebookianos”  e “selfiecescos”, estaria a literatura contaminada pela sociedade imediatista – hedonista – voyerista -  ou seria apenas vida, tecnologia e arte que seguem , juntas, construindo nossa identidade cultural, ressignificando padrões estéticos e comportamentais?
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Fonte da Imagem:







                               Fonte da Imagem:
             
                                                                   https://sociotramas.wordpress.com/2015/04/21/a-intertextualidade-em-obras-de-arte/                     


Temos uma necessidade  cartesiana de  nomear, qualificar, detalhar  e  medir o imensurável. Em literatura não é diferente, necessitamos demarcar no tempo as ocorrências literárias, por mais problemática que seja tal periodização no estudo desta . Quando professora, por exemplo, sempre fora   complicado explicar a meus alunos o período literário em que estaríamos inseridos. 

Desenhos : Pawel Kuczynski

Brincávamos que estávamos no período “facebookiano/selfiecesco/ultramoderno”. 
É bastante difícil opinar acerca daquilo que ainda se está vivendo, correndo-se o risco da parcialidade. Os historiadores, em geral, preferem denominar os períodos a partir de 30 anos após a época em que foram produzidos os textos ; daí a dificuldade natural de nomear um período enquanto se está nele. Igualmente complicado é saber a quantas andam as tendências atuais na literatura...  ... e na sociedade.


Desenhos : Pawel Kuczynski


Li recentemente uma matéria bastante interessante (perdoem-me...já não me recordo mais da fonte) acerca das tendências literárias no cenário brasileiro e global. Nesta, vários especialistas opinaram, chamando-me a atenção um enfoque baseado no livro : Contingência, ironia e solidariedade, de Richard Rorty, em que o autor fala de hermetismo e engajamento, partindo da premissa de que existem dois tipos de linguagem literária (linguagem transparente e linguagem complexa) e dois tipos de conteúdo literário (conteúdo subjetivo e conteúdo político);  sendo que livros de conteúdo subjetivo seriam os imersos na mente do sujeito e os  de conteúdo político aqueles  que tratam das questões sociais.

Segundo esta matéria  , já se poderia dizer que a tendência quase  dominante  hoje na literatura seria  a dos livros , tanto em prosa quanto em verso, de linguagem transparente e conteúdo subjetivo.

Traduzindo: livros que abordam a experiência cotidiana do autor, fazendo assim ,da crônica , o gênero literário do momento, dado  seu caráter realístico ,  podendo desdobrar-se em conto-crônica, em poema-crônica e até em romance-crônica ; além dos contos e romances autoficcionais , levando-se  em conta a verdade biográfica do ficcionista -  vista como um valor de autenticidade ,de natureza confessional,   autobiográfica, passando para o leitor a ideia de que ele esteja mergulhado  numa história verdadeira;  na vida real de uma pessoa de carne e osso - esquecendo-se o leitor , por vezes, de que estaria lendo um livro, podendo , inclusive , submergir numa ilusão compartilhada com o autor de que  o protagonista viesse a ser esse próprio autor. 

Esta tendência ou necessidade que algumas pessoas (hoje, aparentemente a maioria) têm de experienciar  o real , parece fazer  com que o leitor tenha  um esquecimento   momentâneo  de que esteja lendo um texto e sim  bisbilhotando , mergulhando na vida “real” de alguém, como ocorre nas redes sociais.





Fonte da imagem:


http://lounge.obviousmag.org/ligia_boareto/2015/05/24/facebook-curtir-e-nao-curtir.jpg

Desenhos : Pawel Kuczynski

 Presumivelmente , este apreço - por vezes  ingênuo - pela “realidade/verdade” é que estaria “salvando da falência a literatura brasileira”, bastando para tanto , segundo a matéria, vermos a lista de vencedores dos principais prêmios literários dos últimos  anos,  retrato dessa aparente tendência.

Já na poética, hoje, o verso que parece interessar não é aquele repleto de regras e cânones do passado. Agora , a poesia lida , em sua maioria, parece estar  sem grandes pretensões acadêmicas, sem firulas  elitisantes ,visto que não esteja sendo lida apenas por poetas , acadêmicos ou pesquisadores, mas sim, por  quem se interessa pela    existência cotidiana , acessível,  bem-humorada ,que pode ser “curtida” e comentada nas  redes sociais(porque entendida )  . O eu lírico parece ter cedido  lugar  à conversa descontraída, sem grandes explicações, bibliografias  ou notas de rodapé.  
  
Parece, enfim, haver um interesse exacerbado pela verdade do real, do aqui e agora , aproximando-se de uma simplicidade que - aparentemente -  beiraria o simplório ; com as devidas  escusas à redundância.


Mas,de onde viria esta aparente tendência de experimentação do simples,do agora ,do "real"  ?

Um desavisado imediatista diria logo que se trata de mais uma consequência de uma educação ruim. Será ? 

Explicações imediatistas geralmente não se sustentam ou , pelo menos , necessitam de algo mais para  tornarem-se  minimamente coerentes . Assim, como quase que por associação, lembrei-me do "mundo líquido” de Bauman  , e algo , do alto de meu “achômetro”, começou a fazer sentido . 

No mundo ”líquido” de Bauman (Zygmunt Bauman, sociólogo polonês), no qual os relacionamentos hoje seriam  massivamente  virtuais , pouco reais  e sem uma duração consistente ;  talvez  o indivíduo seja levado – pela própria ausência do tangível -    a uma busca de algo mais concreto a que  , provavelmente , a literatura realística de  fatos cotidianos (ainda que forjados por um exímio autor-protagonista-testemunha )  esteja suprindo .

As cenas corriqueiras , presentes no” facebook” , “instagram” e redes sociais diversas -  no geral  triviais e predominantemente fúteis-  imitam o cotidiano mas com uma roupagem maquiada de “glamour”,   gerando uma falsa interação que , apesar de importante , não  faz com que tais cenas tenham o “status” de verdade  da “realidade/simulacro”   desta  literatura que emerge. 



Estaríamos regredindo literariamente ? 
Ainda não sei dizer e talvez não venha saber... não nos próximos trinta anos... 

Mas penso que algo parecido possa ter ocorrido com os artistas dos idos da  “Semana de Arte Moderna de 22” , por exemplo, quando grandes literatos  da época  criticaram ferozmente os arroubos antropofágicos desses artistas e escritores que – igualmente  na contramão do que estava posto como certo e “ normal” , fugindo completamente dos padrões tradicionais  que influenciavam os artistas até então - modificaram  não só a estética e a literatura  como principiaram uma renovação de  costumes.   

Provavelmente, o “Abapuru” de ontem, possa ter assustado tanto quanto os versos livres e descompromissados de hoje...
  Lobatos que o digam !

http://www.estudioaliento.com.br/attachments/Image/livros_mouse.jpg




Mary  Lúcia  Oliveira

sábado, 7 de novembro de 2015

Alma Vaga


Alma Vaga

(…Vagar , estar vago …  Onde o amor está em você ? Dentro ou fora ? )

  

Vaga o espírito da chuva pelas janelas ;

Descortinando-se pelas sacadas ;

Obsidiando  árvores; incorporando-se aos seres ;

Encharcando almas sedentas  de sol

E assustando crianças  

Com os ecos soturnos de seus raios e trovões .

         

Na sacada ;

Presença  fluídica a escorrer pelo vidro;

Já não tão nítido  de se ver lá fora.

 

Espectro  d’água ;

Vento e chuva  :

Dois irmãos  brigando além  da janela.

Tempestade  torrencial;

Úmido exílio ;

Líquido vagar…

 

Tudo fechado;

Corpo fechado.

Imensa vaga em mim...

 

E então me exacerbo ;

Nessa tempestuosa  solidão .

 

Mas  lá fora,

Entre o aquoso caos

E uma orvalhada coerência

De pingos extertores de um ex-temporal;

Tudo germina.

 

Revigora-se  o todo  lá fora

E volta a mim.

 

Completude.

Expansão.


Mary  Lúcia  Oliveira

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Férias - Nos Domínios do "Coisa Ruim".

Meus   guias
eram dois...


                       
                                 

...agora são três.


Embora não seja um ser propriamente religioso - e sim crente em algo superior - sempre confiei em meus guias particulares para as "coisas do alto" : São Miguel Arcanjo e meu Anjo da Guarda (fiel e estressado escudeiro...) , entretanto , nunca imaginei necessitar de um guia extra para coisas terrenas ... porém, precisei :e ele não fora santo , mas Santander !


CAVERNA DO DIABO - PETAR


Ao descer no território  daquele que habitaria as profundezas , cercada de certezas e cuidados, fui guiada através dos  domínios subterrâneos de lúcifer e gostei. Nem medo senti :  nosso "guia terreno" não nos deixou sentir. Encarei o “coisa ruim” de frente ...   ... até tirei foto dele ! 
Pobrezinho ! 
Todo acabrunhado , circundado e neutralizado  por tantas outras figuras e entidades do bem: altares, bruxas, santas... 


Foto do meliante :
 Interior da "Caverna do Diabo"  - " O Diabo"


 Imagens do Interior da "Caverna do Diabo" 



                                                              
                                                                                            "Mão de Deus"

 
       " A Bruxa"



                                                       


            
                                    


A Propósito:


Santander.
Nosso quase santo guia !

Obrigada !

***

P.S.:
Pois é , estou  tecnicamente em umas " pequenas  férias" .
Logo voltarei a postar!
Abraços  a todos !



Mary Lúcia Oliveira.

domingo, 18 de outubro de 2015

Fiz as Pazes Com o Funk !

patriarcado

Não , não sou saudosista a ponto de achar que só as músicas de meu tempo é que eram músicas. Porém, funk nunca foi  exatamente  a “minha praia”  .  E  houve um tempo em que , na verdade, eu odiava esse tal de  funk !

Em minha época (...já cruzei o cabo da boa esperança umas, digamos, duas vezes :  4.7  - purpurinada – roda de cinta-liga leve – seios ABS... rss ...), o funk era apenas uma sucessão de frases depreciativas  - travestido de arte popular -  direcionadas à mulher  e seu corpo  : “ desce ...empina...mexe ...só as cachorras ...” , denegrindo a imagem e a honra femininas .

Hoje, isso ainda “rola” , mas a mulher  - especialmente  dessa nova geração -  tem demonstrado (GRAZADEUS !)   não ser mais exatamente a mesma: ela mexe , rebola , empina ; deixando claro que faz isso porque o corpo é , antes de tudo -  dela  -  e portanto, a decisão de fazê-lo , ou não , é apenas e tão somente, DELA !

Esta nova mulher parece  agora exigir  um certo padrão de excelência masculino, além  de  assumir , sem culpas ,  uma  posição  de  protagonista, sem medo de parecer vulgar (fêmea não mais controlada ),partindo  também para o “ataque” ;  além de não estar admitindo que sua sexualidade –encarada cada vez mais com naturalidade – seja  controlada ou punida socialmente.


Duvida ?

Então veja  isso :

Anitta - Menina Má
" ...Me olha, deseja que eu veja / Mas já digo: "não vai rolar" / Agora é tarde pra você querer me ganhar/Rebolo, te olho / Mas eu não quero mais ficar / Admito que acho graça em ver você babar. / Vem, se deixa render  / Vou como sereia naufragar você/ Satisfaço o meu prazer /Te provocar /E deixar você querer /Agora eu vou me vingar  /Menina má /Vou provocar vou descer/Vou instigar/Me pede beijo, desejo/Não vou beijar/Pode sonhar/Sou uma menina má..."



... E  Isso:

Ludmilla - Se Eu Descobrir
 “Ele só quer me dar perdido e quer me deixar em casa./Todo o dia é a mesma coisa: só chega de madrugada./A Mc Ludmilla vai passar-te a visão para que fiques ciente:Se eu descobrir quem e essa safada,pode avisar a ela que eu vou meter a porrada! (2x)/E se eu pegar você me traindo,eu vou me vingar e vou ficar com o seu amigo./Depois não adianta chorar, nem ficar maluco, /pois vou ficar com o seu amigo e espalhar para todo mundo. (2x)




E Mais Isso :

Ludmila - Hoje:
“...Hoje- ninguém dorme em casa /  Hoje- vai ser meu brinquedo/    Hoje - porque eu quero te pegar, gostoso! ...”



Ludmila - Te ensinei “certin” 
 “ Te ensinei certin/ Te ensinei certin /Hoje tu tira onda / Porque eu te ensinei certin
Me olha direito/Me pega com jeito/Que eu vou gostar...”




E Mais :

Lexa : Disponível
  “...Se encontra, se situa,terminou, não sou bagunça /Fica longe, bem longe de mim/De sainha eu sou top, e  quando passo eu arraso./ Disponível, nunca fácil ! /Sai da frente, quero espaço, Quero espaço,Deixa eu causar,/ não me segura , sai do meu lugar, fica na sua ...”



...e para quem tem "olhos de ver" ,
 tem  M-U-I-T-O  mais por aí...

Enfim, 
 um novo tempo ?


“DEMORÔ”!!!


Mary  Lúcia  Oliveira.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Intervalo - " Bônus Track "




Sabe...  gritar aos quatro ventos : injustiça! Injustiça ! Parece que não vai adiantar mesmo - não tem produzido sequer eco - e a defesa de nossa democracia tem pressa  ...

Então, há momentos em que se faz  necessário recuar e  mudar o foco  para , mais adiante , atingir o alvo , o objetivo . Ou , quem sabe, para outros , atuar em duas frentes...

Assim, precisamos fazer surgir  um novo "front" de batalha : desconstruir em nossa sociedade a ideia imposta e errônea  de sucesso.


" ... Do que é que essa doida está falando ? " .


Não entendeu nada não é mesmo ? 



Tá ! 

Ok ! 



...........pelo menos, escutem esses caras :





FUI !


sábado, 10 de outubro de 2015

Zombieland




POSSÍVEIS EXPLICAÇÕES PARA O  AVANÇO FASCISTA 

Provavelmente, devido aos anos de censura a que fomos expostos, carregamos em nosso inconsciente coletivo o medo de que fantasmas ditatoriais ressurjam de um limbo histórico , como zumbis que voltam a assombrar de um passado não muito distante e ,  portanto, ainda vivo nas memórias de todos nós.

Dessa forma ,  com o propósito de não permitir o retorno desses zumbis,  permite-se que toda uma corja de seres  abjetos – ainda mais rançosos que  agora pueris   zumbis – verdadeiros e macabros fantasmas   , passem a assombrar nossa democracia.


Assim, nestes últimos tempos ,toda a fauna reacionária tem a “liberdade” de dizer impropérios e disparates, além de formar os seus tresloucados fãs ,  com o aval do “não podemos censurar” .


Deste modo, parlamentares de conduta - no mínimo-  vexatória , seguem  impunemente,  dizendo e propagando desatinos de toda espécie ;  “comediantes” se acham no direito – travestido de arte - de humilhar pessoas publicamente ;  pseudo “jornalistas” proferem “editoriais” carregados de preconceitos de toda sorte.


Mas , alguns poderiam pensar : qual o problema ? Bem, as pessoas , afinal, realmente têm o direito de pensarem o que quiserem.


O problema é quando saem da esfera do pensamento e são influenciadas por ícones que não só reverberam tais pensamentos - até então devidamente escondidos pelo bom senso , outrora reinante -  como já se tornaram catalisadores com poder não só de influência como de decisão. E assim, a “massa” - tradicionalmente pouco crítica e  baseada em falsas premissas (afinal , é bem mais fácil confiar em pseudo reportagens que aprender a  pesquisar...)  - tem agora não só a chance como o aval de colocar para fora (vomitar) seus desejos e crenças mais secretos  de ódio, preconceito e intolerância. 


Afinal, quando se está em bando, tem-se a falsa ideia de que se  caminha com a verdade...





...como sociedade , 

precisamos - urgentemente -  de terapia. 

O problema é assumir-se como doente...






De quando zumbis eram apenas zumbis.........bons tempos !

Mary  Lúcia  Oliveira.



domingo, 4 de outubro de 2015

Epicuro e a Felicidade, Ainda...




Em tempos de ignorância, não conseguia entender por que certas criaturas necessitavam citar filósofos antigos para contemporaneidades . Parecia-me sempre uma excentricidade, um exibicionismo retórico e pedante .

O tempo passa e não só nos damos conta de nossos ridículos particulares como do quanto o ser humano é cíclico , ainda que evolua no tempo.

Quer uma amostra? Questões antigas  acerca do sentido da vida ,de como encontrar a felicidade, por exemplo ,parecem ainda serem alcançadas por ecos de um passado remoto, como os ecos do  epicurismo :  sistema filosófico, criado por um filósofo ateniense chamado Epicuro de Samos , no século IV a.C.  , que nunca esteve tão atual.

Para Epicuro , o prazer seria o único fenômeno capaz de trazer o bem estar, a felicidade. Por pensar desta forma, foi confundido com os hedonistas, que alegavam ser o prazer o princípio e o fim de uma vida feliz. No entanto, Epicuro fazia  uma distinção entre o prazer passageiro e o prazer estável. O primeiro seria a alegria, a felicidade. Já o segundo seria a total ausência de
dor. Epicuro dizia que os sábios procuram pelo segundo prazer, condenando a impulsividade na satisfação pessoal. Segundo ele, “nenhum prazer é em si um mal, porém ,certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres”.

Mas o que teria isso a ver com nossa contemporaneidade?

Na Grécia  de Epicuro, a democracia é abolida pelo novo monarca ,Alexandre, o Grande, que  passa a personificar o  chefe supremo. A participação integral de cada cidadão em todos os aspectos da vida comum persistiu até a tomada do Império  por Alexandre . Vencida pelo império macedônio, a polis renuncia em parte à sua autonomia e os cidadãos à sua soberania . A partir de então, desempenhar um papel político não era mais participar do poder coletivo do povo, mas colocar-se a serviço do soberano ou de seu governante em Atenas. É um período de pessimismo e de amargura; de homens expostos aos terrores perante as tiranias naturais e sobrenaturais. Como então conseguir alguma tranquilidade, sem sofrimentos, sem desesperos? Este foi o  dilema enfrentado por Epicuro.

Assim , na filosofia, o pensamento muda de maneira significativa : há uma imposição acerca da busca pela sabedoria e de respostas sobre o que seria a felicidade. Cultos religiosos antigos já não tinham mais massivos reflexos na crença popular e o medo dos deuses passava a ser  uma  inquietação rotineira.

Para as filosofias que  antecederam  a Epicuro ,no auge da polis, a busca da virtude e da  felicidade eram feitas pela política. O bem viver , no sistema aristotélico, por exemplo, era algo que ocorria somente em meio à polis. Já nos tempos de Epicuro, viveu-se uma crise parecida com a que vivemos no mundo contemporâneo, na qual identidades já assentadas nos costumes e no tempo , portanto estáveis até então,  começavam a se dissolver. Passa a haver uma desconexão entre o ideal de felicidade e o corpo de cidadãos que deve decidir a vida de todos , até por que ,  esta decisão escapa ,doravante, dos domínios do  cidadão. A Ágora , agora, deixa  a ribalta e ocupa seu lugar no panteão da utopia para as gerações posteriores  ou transfere-se para o “Jardim de Epicuro.”

Deste modo,  havia , assim como hoje, uma certa desafeição pela política. Tal como em nossos dias, a ética havia se desconectado dessa política, passando então a se centrar no próprio indivíduo. A busca da felicidade agora viria a ser individual. Hoje,  isso parece óbvio – vivenciamos isso -  mas na época era uma novidade das mais significativas. Nessa nova  
 concepção ética ,o homem deveria encontrar em si mesmo o princípio de sua liberdade. Aliás, esse será um traço de todas as filosofias helenísticas: o desinteresse pela política. Não estamos vendo um filme parecido, apesar da poeira dos tempos  ?



Isto posto , o epicurismo parece ter respondido a essas questões , propondo o recuo da ágora para o jardim (kepos). Na  escola de Epicuro havia uma casa e  um jardim. Este, uma espécie de horta ou horto,  onde se reuniam seus alunos e adeptos ;  o chamado jardim de Epicuro ou jardim dos prazeres, concebido como um refúgio. Cícero, distorcendo a verdade, chamava-lhe “um jardim de prazer onde os discípulos languesciam em gozos refinados” (qualquer similitude com nossos tempos ou com nossa mídia vendida, não será mera coincidência). Observem que esta concepção errônea prevalece em grande parte ainda em nosso tempo  ,  haja vista a confusão que se faz até hoje entre epicurismo e hedonismo.

Acho que vou deixar nossos amigos aí

embaixo finalizarem isso para mim ( são só 7 minutinhos, vai... )



Mary  Lúcia  Oliveira