Em
tempos de ignorância, não conseguia entender por que certas criaturas
necessitavam citar filósofos antigos para contemporaneidades . Parecia-me
sempre uma excentricidade, um exibicionismo retórico e pedante .
O
tempo passa e não só nos damos conta de nossos ridículos particulares como do
quanto o ser humano é cíclico , ainda que evolua no tempo.
Quer
uma amostra? Questões antigas acerca do
sentido da vida ,de como encontrar a felicidade, por exemplo ,parecem ainda
serem alcançadas por ecos de um passado remoto, como os ecos do epicurismo : sistema filosófico, criado por um
filósofo ateniense chamado Epicuro de Samos , no século IV a.C. , que nunca esteve tão atual.
Para
Epicuro , o prazer seria o único fenômeno capaz de trazer o bem estar, a
felicidade. Por pensar desta forma, foi confundido com os hedonistas, que
alegavam ser o prazer o princípio e o fim de uma vida feliz. No entanto,
Epicuro fazia uma distinção entre o
prazer passageiro e o prazer estável. O primeiro seria a alegria, a felicidade.
Já o segundo seria a total ausência de
dor. Epicuro dizia que os sábios
procuram pelo segundo prazer, condenando a impulsividade na satisfação pessoal.
Segundo ele, “nenhum prazer é em si um mal, porém ,certas coisas capazes de
engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres”.
Mas o
que teria isso a ver com nossa contemporaneidade?
Na Grécia de Epicuro, a democracia
é abolida pelo novo monarca ,Alexandre, o Grande, que passa a personificar o chefe supremo. A participação integral de cada
cidadão em todos os aspectos da vida comum persistiu até a tomada do Império por Alexandre . Vencida pelo império
macedônio, a polis renuncia em parte à sua autonomia e os cidadãos à sua
soberania . A partir de então, desempenhar um papel político não
era mais participar do poder coletivo do povo, mas colocar-se a serviço do
soberano ou de seu governante em Atenas. É um período de pessimismo e de
amargura; de homens expostos aos terrores perante as tiranias naturais e
sobrenaturais. Como então conseguir alguma tranquilidade, sem sofrimentos, sem
desesperos? Este foi o dilema enfrentado
por Epicuro.
Assim , na filosofia, o pensamento
muda de maneira significativa : há uma imposição acerca da busca pela sabedoria
e de respostas sobre o que seria a felicidade. Cultos religiosos antigos já
não tinham mais massivos reflexos na crença popular e o medo dos deuses passava
a ser uma inquietação rotineira.
Para as filosofias que antecederam a Epicuro ,no auge da polis, a busca da virtude e da
felicidade eram feitas pela política. O bem viver , no sistema
aristotélico, por exemplo, era algo que ocorria somente em meio à polis. Já nos
tempos de Epicuro, viveu-se uma crise parecida com a que vivemos no mundo
contemporâneo, na qual identidades já assentadas nos costumes e no tempo ,
portanto estáveis até então, começavam a
se dissolver. Passa a haver uma desconexão entre o ideal de felicidade e o
corpo de cidadãos que deve decidir a vida de todos , até por que , esta decisão escapa ,doravante, dos domínios
do cidadão. A Ágora , agora, deixa a ribalta e ocupa seu lugar no panteão da
utopia para as gerações posteriores ou
transfere-se para o “Jardim de Epicuro.”
Deste modo, havia , assim como hoje, uma certa desafeição
pela política. Tal como em nossos dias, a ética havia se desconectado dessa
política, passando então a se centrar no próprio indivíduo. A busca da
felicidade agora viria a ser individual. Hoje, isso parece óbvio – vivenciamos isso - mas na época era uma novidade das mais
significativas. Nessa nova
concepção ética ,o homem deveria encontrar em si mesmo
o princípio de sua liberdade. Aliás, esse será um traço de todas as filosofias
helenísticas: o desinteresse pela política. Não estamos vendo um filme parecido,
apesar da poeira dos tempos ?
Isto posto , o epicurismo parece ter
respondido a essas questões , propondo o recuo da ágora para o jardim (kepos). Na
escola de Epicuro havia uma casa e um jardim. Este, uma espécie de horta ou horto,
onde se reuniam seus alunos e adeptos ; o chamado jardim de Epicuro ou jardim dos
prazeres, concebido como um refúgio. Cícero, distorcendo a verdade, chamava-lhe
“um jardim de prazer onde os discípulos
languesciam em gozos refinados” (qualquer similitude com nossos tempos ou
com nossa mídia vendida, não será mera coincidência). Observem que esta
concepção errônea prevalece em grande parte ainda em nosso tempo , haja
vista a confusão que se faz até hoje entre epicurismo e hedonismo.
Acho que vou deixar
nossos amigos aí
embaixo finalizarem
isso para mim ( são só 7 minutinhos, vai... )
Mary Lúcia Oliveira
#Epicuro
#felicidade
#filosofia
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.