Sabe aquele povo evangélico que chuta imagens
, como a da “Virgem Maria”, por exemplo ; ou ainda , aqueles outros , que
tacham esses primeiros como contrários à mãe de Deus ? Pois é, é tudo a
mesma coisa .Duas faces de uma mesma, velha e gasta moeda !
Numa sociedade que , em
sua maioria, ainda se divide entre cultuadores e não-cultuadores da
“Virgem Maria" , digamos assim, não seria muito fácil
inserir evidências , por exemplo, de um possível plágio ou de uma
assimilação , no mínimo cultural- para não dizer religiosa - da figura arquetípica
da Deusa (Maria ou a Tríplice Deusa).
A deusa tríplice
ou triforme, antecessora e inspiração para a criação do mito
cristão da “Virgem Maria” ou Nossa Senhora em suas várias formas ,
assimilada pelo cristianismo, entre outros credos ; apesar de ter sua
“originalidade” reivindicada por cristãos , é observada em muitas lendas de
vários povos antigos “pagãos”, incluindo os celtas .
*
Afinal, quando terá o ser humano, começado a imaginar o mistério maior como
sendo algo trino? Mesmo dentro do mais crasso politeísmo a ideia da unidade e
da trindade divinas parecem ter sido uma constante nas culturas antigas. Antes
que os deuses e deusas se manifestassem como poderes individualizados, a
divindade ,originalmente,manifestou-se trinitariamente.Desta forma, tanto
o Deus quanto a Deusa são vistos como figuras trinitárias, dos quais os demais
seriam manifestações de atributos destes...
Desde sempre , em remotas
eras, os homens têm concebido uma “Grande-Mãe” que zela pela humanidade
lá do céu ou do olimpo dos deuses. Este conceito é encontrado em todas as
religiões, povos e suas mitologias, possuindo essas grandes mães várias similaridades entre diferentes povos, em todos os tempos e culturas.Tal
ocorrência é explicada - segundo C. G. Jung - pelo fato de
todos estes mitos representarem uma realidade psicológica (e não exatamente
religiosa) , percebida como uma imagem surgida do inconsciente e projetada para
o mundo exterior, tomando a forma de um ser divino. Ainda segundo Jung , as
deusas são princípios dotados de forças que funcionam separadamente da vontade consciente do homem e à cuja ordem ele deve
curvar-se. Assim, a chave promovida pela deusa tríplice abre muitas
portas que dão acesso às camadas mais profundas do nosso ser.
Além dos celtas, a mitologia
grega nos fornece a maior representação ou fonte de consulta sobre as deusas (
ou talvez a mais próxima no tempo), como sua representação da deusa
tríplice,correspondendo às três fases da lua e simbolizadas por :
Ártemis (que encerra a Lua), Selene (Lua Cheia) e Hécate (Lua
Minguante), revelando-se em três níveis e nos três domínios do mundo e da
humanidade, assim como o homem também é tríplice tendo corpo, alma e espírito.
Deste modo , essas três
facetas da deusa são vistas como correspondentes a esses planos tanto do
microcosmo do ser humano (corpo, alma e espírito) quanto do macrocosmo,
igualmente tríplice : céu (o reino urânio), superfície da Terra (e
Mar) e nas profundezas da terra (o reino Inferior ctônico) ; assim como “o
reino do tempo” tem igualmente três “conhecidas” dimensões: passado, presente e
futuro.
A Deusa tríplice , também em suas três faces : jovem,
senhora e anciã, tomou diversos nomes em várias
culturas mundo afora e o conceito mais famoso é o das deusas greco/romanas, simbolizando
a tripla imagem da Mãe original.
Deusa
Hécate - de onde provavelmente terá surgido o formalismo dos deuses de
braços múltiplos tipicamente hindu .
Em sua forma mais severa ,
a deusa da lua é "Hécate", associada ao próprio
inferno grego, senhora da noite mais escura e dos reinos mais
misteriosos. Hécate espalhava benevolência entre as pessoas, concedendo
graças a quem as pedia. Dava prosperidade material e política, vitória nos
jogos e batalhas, peixe abundante para os pescadores e gado saudável para o
pastoreio.
No Gênesis original , o
espirito divino pairava qual uma grande ave incubadora sobre o mar envolto em
trevas... Símbolo da maternidade divina, a noite , quando associada à Deusa
(representada com seu signo lunar - a lua em uma de suas fases) ,
simboliza o grande mistério da geração da vida de onde todos viemos e
para onde voltaremos.
As bruxas da era homérica
recorriam a Hécate quando queriam fazer seus sortilégios . É ainda a ela a quem a experiência e o tempo conferem suas dádivas , sendo uma deusa muito
importante na bruxaria ou "wicca" até hoje , cujas práticas ritualísticas ainda adotam os
deuses originais greco-romanos em seus cultos.
Ela representa a anciã repleta de sabedoria ancestral
(embora o machismo, as igrejas e hollywood a tenham transformado - por
meio do estereótipo da bruxa má ou do mal - em vilã) mas que já não necessitava
encantar pela beleza de sua porção jovem ou pela sexualidade de sua face senhora.
Hécate reinou e ainda reina soberana
no tempo,através de sua sabedoria e enorme poder, por meio de
suas "cópias" : ora santas, ora bruxas...
Um detalhe aqui , outro ali. Uma lua em cima , outra embaixo, aos pés...
Manifestações trinas...À cada assimilação por uma outra religião : perdas, manutenções e acréscimos de detalhes, mas sempre o mesmo apelo ao arquétipo da deusa...
Santíssima Virgem Maria
Mary Lúcia Oliveira
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