Adoro
milho verde.
Ando odiando muita coisa mas ainda gosto muito de milho verde.
Porém, gosto dele “in natura”:cozido,sem
sal , sem manteiga/margarina, SEM NADA !
Aquele gostinho natural e meio agridoce que só os fortes conseguem assimilar !
Dia desses,
comprei uma cumbuca de milho verde em um quiosque de rua e pedi ao vendedor : “sem
sal e sem manteiga” .
O “cara” me olhou
como quem acabara de ver um ET de três cabeças ... Senti-me como se tivesse de pedir desculpas
por ter feito um pedido tão indecente e ofensivo . Foi como se houvesse
ofendido toda uma tradição milenar constituída e assentada em bases ultra
sólidas e arquetípicas.
O olhar
do vendedor foi tão opressivo e contundente que, por longos 5 segundos, cogitei
a hipótese de estar errada , chegando a pensar em mudar o meu pedido. O
vendedor , percebendo seu poder súbito e repressivo sobre mim, insuflou o peito
e, arqueando as sobrancelhas como quem vai dar um último aviso/chance ,perguntou: “sem nada mesmo”??!!!!
A postura e a famigerada pergunta dele
me fizeram voltar à tona dos cinco segundos em que quase sucumbi à empáfia secular
dos vendedores convictos de seu ofício , digo, ditadores de costumes comerciais , ao que respondi altiva, recobrando minha lógica
costumeira e meus brios : “Sim, sem NADA !”
Assim
que peguei a vasilha das mãos dele , fiz questão de dar a primeira “bocada”
em frente ao sujeito, mostrando-lhe como é que se come prazerosamente milho
verde , ao mesmo tempo em que se escapa de um sistema de crenças e convicções atreladas à convenções ditas “normais”. A porra do milho nem estava tão bom assim , mas
eu não iria perder esta chance. Não era apenas euzinha x o vendedor de milho verde, mas eu x
o mundo quase inteiro de criaturas rendidas a padrões desconcertantes de
alimentação nada saudável, para dizer o mínimo.
Desde os primórdios , somos
influenciados por conteúdos simbólicos constituintes de crenças,,
costumes, valores e religiões,ou seja, representações
simbólicas culturais. Construímos nossas identidades e subjetividades de
acordo com as relações e experiências com a cultura em que estamos
inseridos reproduzindo várias de suas representações.̧ões
simbólicas.
Muitas destas foram institucionalizadas algum tempo atrás, e outras, há milhões
de anos, nos tempos mais primevos :comportamentos atávicos; repetições
com/sem sentido; costumes ...
Assim, é muito comum não termos exata consciência
do verdadeiro sentido de várias destas representações/repetições , embora sigamos executando-as..
Mas , o que o pobre do milho verde tem a ver com isso ?
O milho , nada.
Mas os "vendedores"...
Mary Lúcia Oliveira.
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