Um Sorriso (Ferreira
Gullar/Ronaldo Motta)
Um sorriso
Quando
com minhas mãos de labareda te acendo
e em rosa
embaixo te espetalas
quando
com o meu aceso archote
e cego penetro a noite de tua flor
que exala urina e mel
que busco eu
com toda essa assassina fúria de macho?
que busco eu
em fogo aqui embaixo?
senão colher
com a repentina mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina ?
Neste poema de Ferreira Gullar, a flor mencionada é uma
associação direta à genitália feminina. O ser masculino é a representação clara
do “modus operandi” do poder , que
privilegia e insere o masculino como o
sujeito da sexualidade , sobrando ao feminino a posição de objeto
coadjuvante : “...a flor que exala urina e mel...” devidamente despetalada pela "...assassina fúria de macho..." , reverberação desse “poder macho” subjacente, inclusive na linguagem , reflexo social.
Ah ! Mas é o Gullar! Sim, o poeta
continua sendo um grande poeta , mas também exímio representante de seu tempo ;
tempo esse que não parece ter mudado tanto assim. Os homens, hoje , ainda em
sua maioria , parecem ter aprendido apenas que devem ter um discurso não
machista, mas que não se sustenta na prática.
Porém, em se tratando de antropofagia (que aqui é mero eufemismo...),
o que mais se assemelharia a uma boca :
o órgão masculino ou o feminino ?
Evidentemente, o feminino. Mas o homem parece ter uma
necessidade gritante de encobrir tal fato . É como se temesse ser “engolido” ou , recorrendo a Freud, o medo inconsciente
da castração.
Resumindo, quando vir homens dizendo que “comeram” fulana , bem,
dentre outros sentimentos perfeitamente justificáveis – sinta pena - também.
Ao final e ao cabo...
...eles são frágeis...
Ao final e ao cabo...
...eles são frágeis...
Mary Lúcia Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.