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Colunista:

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domingo, 22 de maio de 2016

Dúvidas, deuses e hollywood...

Às vezes , para explicar ou entender certas humanidades , é preciso dispor de alguma humildade  e ,  não apenas  reconhecer   como apelar à imensa contribuição  empírica hollywoodiana ou à dos gregos em sua imagética mitológica; tão antiga, igualmente empírica  e primária,  à qual recorria largamente  a própria psicanálise ao explicar as dores e mazelas humanas.


Nossas humanidades hoje são mascaradas ou escancaradas por hollywood  e foram transformadas pelos gregos antigos em verdadeiras e encantadoras abstrações visuais, apresentadas em uma espécie de divagação encarnada; brindadas de carne , sangue, suor e materialidade através dos mitos : criaturas, daimons, deuses...repletas, ao mesmo tempo,  de muita criatividade , humanidade e  mítica.
 

E falando  em humanidades,nada  mais humano que dúvidas existenciais ou  dúvidas e dores de amores (...)


Dores, amores ... seus , de outrem , de amigos...  ... e por falar em amigos......... "uma amiga” estava em dúvida se deveria sair com um certo bofe.Bofe magia,lindo, gostoso,verdadeiro Apolo...  Bem, qual a dúvida então ?  Ora, pela lógica dos mortais, nenhuma. O problema é que havia no horizonte toda uma conjunção de outros fatores  e mais dois bofes... Os três bofes-magia, porém cada um era mago em , digamos , “áreas”  distintas. Não leitor, não atire a primeira pedra... Quem jamais ficou dividido ? Quem nunca?

Diante desta aparente situação conturbada e de abundância bofesca , tentei ajudá-la, recorrendo primeiro  à imagética hollywoodiana , lembrando-a de um filme chamado  “O Diário de Bridget Jones”. Nele , a mocinha – ou anti-heroína -  decide sair com um certo bofe magia mas, por dúvida ou convicção,   não quer “dar” a ele no primeiro encontro. Qual o recurso utilizado por ela, então  ? A boa e velha “calçola da vovó” ! Sim, nada científico ou psicanalítico, porém muito eficiente. Quem nunca ? Quem jamais se utilizou de um subterfúgio quando não está conseguindo se decidir ? Quem conseguiria chegar às “vias de fato” estando vestida com a “calcinha da vovó”? Sim, aquela que mais parece um fraldão,nada sensual.E por mais que não admitamos,todas temos ao menos uma calçola, ainda que esteja relegada a um cantinho obscuro da gaveta.

Mas há ainda o recurso da não depilação. Sim, uma mulher não depilada é a única que consegue dizer NÃO a qualquer bofe, inclusive aos bofes-magia , e assim , sair com todos os bofes em questão, sem se comprometer, ganhando algum tempo para se decidir...

Bem, há ainda a que recorrer à contribuição dos gregos...

Segundo a mitologia grega , Afrodite ,deusa do amor e da Beleza (para os romanos-Vênus), era cobiçada por todos os deuses do Olimpo, que desejavam conquistá-la, embora  ela não se decidisse por nenhum deles.

Mas o amante preferido de Afrodite fora Ares, com quem teve vários filhos: Eros - o deus da paixão, Anteros - o deus da razão, Fobos - o medo, Deimos - o terror e Harmonia - a deusa da concórdia (lembrando que esta é a  versão mais popular para este mito).


Afrodite ("nascida da espuma") emergindo do mar foi imortalizada durante a Renascença por Botticelli em “O nascimento da Vênus”. Esta pintura mostra uma mulher nua, delicada e graciosa, sobre uma concha, sendo levada para a praia pelos deuses do vento e uma chuva de rosas.


Camillo Procaccini-Eros e Anteros

O mito de Afrodite e seus filhos mostra as diversas faces do amor e da paixão humana. Assim, a face mais conhecida, por exemplo, os populares Eros e Anteros, são : Eros   (paixão)  , aquele que  une, Anteros (Anti- Eros / razão) o que separa : amores, amizades...  Mas como tudo na vida não é só o que parece, Eros não é só o bonzinho , e  Anteros, apesar de ser o suposto vilão da história, disseminando aparente ódio e discórdia, apenas tenta não permitir que se confundam os seres que  não tenham afinidades entre si , impedindo na verdade separações futuras... Mas casais ainda sofrem por não darem ouvidos ao incompreendido Anteros ... ou à razão...


 Assim como os filhos de Afrodite, nem tudo no amor é perfeito. Cada pessoa possui singularidades, tem  sua própria  história de vida, seus medos ,desejos.
 Em alguns dias o amor será belo, em outros ,


poderá ser atropelado pela paixão. 

O sexo poderá ser maravilhoso,  mas nem sempre significará amor...
   
Como na mitologia, o amor possui inimigos como  o medo, a dúvida, o terror das suspeitas - por vezes infundadas -  a recusa em aceitar o outro como ele é.  Amor precisa ser também amizade,  carinho, compreensão e uma boa dose de tolerância , além da noção de que amar não é se perder no outro . Nada atrapalha, nada interfere, nada perturba um amor verdadeiro .Exatamente por isso, acontece para poucos. O amor é falível, mas é preciso crescer e amadurecer através dele.

Quem diria que , mais de dois milênios atrás, esses gregos já soubessem  tanto sobre o amor, a ponto de conseguirem representa-lo  com tantas nuances simbólicas , com suas faces, defesas, consequências; atravessando altivamente as brumas do tempo com irreparável contemporaneidade . E olha que eles nem tinham hollywood a que recorrer...
...................
 
                                                               Mas,depois desse prolixismo todo, sinto que a ideia da 
NÃO depilação ou até mesmo da calçola é que 
ainda ecoam na alma e nas intenções desta “amiga” indecisa...

Hollywood terá enfim suplantado  a sabedoria dos deuses ?

Mary Lúcia Oliveira.


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