Às vezes , para explicar ou entender certas humanidades , é preciso
dispor de alguma humildade e , não
apenas reconhecer como apelar à imensa contribuição empírica hollywoodiana ou à dos gregos em sua
imagética mitológica; tão antiga, igualmente empírica e primária,
à qual recorria largamente a
própria psicanálise ao explicar as dores e mazelas humanas.
Nossas humanidades hoje são mascaradas ou escancaradas por
hollywood e foram transformadas pelos
gregos antigos em verdadeiras e encantadoras abstrações visuais, apresentadas
em uma espécie de divagação encarnada; brindadas de carne , sangue, suor e
materialidade através dos mitos : criaturas, daimons, deuses...repletas, ao
mesmo tempo, de muita criatividade , humanidade
e mítica.
E falando em humanidades,nada mais humano que dúvidas existenciais ou dúvidas e dores de amores (...)
Dores, amores ... seus , de outrem , de amigos... ... e por falar em amigos......... "uma amiga”
estava em dúvida se deveria sair com um certo bofe.Bofe magia,lindo, gostoso,verdadeiro Apolo... Bem, qual a dúvida
então ? Ora, pela lógica dos mortais,
nenhuma. O problema é que havia no horizonte toda uma conjunção de outros
fatores e mais dois bofes... Os três
bofes-magia, porém cada um era mago em , digamos , “áreas” distintas. Não leitor, não atire a primeira
pedra... Quem jamais ficou dividido ? Quem nunca?
Diante desta aparente situação conturbada e de abundância
bofesca , tentei ajudá-la, recorrendo primeiro
à imagética hollywoodiana , lembrando-a de um filme chamado “O Diário de Bridget Jones”. Nele , a mocinha
– ou anti-heroína - decide sair com um
certo bofe magia mas, por dúvida ou convicção,
não quer “dar” a ele no primeiro encontro. Qual o recurso utilizado por
ela, então ? A boa e velha “calçola da
vovó” ! Sim, nada científico ou psicanalítico, porém muito eficiente. Quem
nunca ? Quem jamais se utilizou de um subterfúgio quando não está conseguindo
se decidir ? Quem conseguiria chegar às “vias de fato” estando vestida com a
“calcinha da vovó”? Sim, aquela que mais parece um fraldão,nada sensual.E por mais que não admitamos,todas temos ao menos uma calçola, ainda que esteja relegada a um cantinho obscuro da gaveta.
Mas há
ainda o recurso da não depilação. Sim, uma mulher não depilada é a única que
consegue dizer NÃO a qualquer bofe, inclusive aos bofes-magia , e assim , sair
com todos os bofes em questão, sem se comprometer, ganhando algum tempo para se decidir...
Bem,
há ainda a que recorrer à contribuição dos gregos...
Segundo a mitologia grega , Afrodite ,deusa do amor e da
Beleza (para os romanos-Vênus), era cobiçada por todos os deuses do Olimpo, que
desejavam conquistá-la, embora ela não
se decidisse por nenhum deles.
Mas o amante preferido de Afrodite fora Ares, com quem teve
vários filhos: Eros - o deus da paixão, Anteros - o deus da razão, Fobos - o
medo, Deimos - o terror e Harmonia - a deusa da concórdia (lembrando que esta é
a versão mais popular para este mito).
Afrodite ("nascida da espuma") emergindo do mar foi imortalizada durante a Renascença por Botticelli em “O nascimento da Vênus”. Esta pintura mostra uma mulher nua, delicada e graciosa, sobre uma concha, sendo levada para a praia pelos deuses do vento e uma chuva de rosas.
Camillo Procaccini-Eros e Anteros |
O mito de Afrodite e seus filhos mostra as diversas faces do
amor e da paixão humana. Assim, a face mais conhecida, por
exemplo, os populares Eros e Anteros, são : Eros (paixão)
, aquele que une, Anteros (Anti-
Eros / razão) o que separa : amores, amizades... Mas como tudo na vida não é só o que parece,
Eros não é só o bonzinho , e Anteros,
apesar de ser o suposto vilão da história, disseminando aparente ódio e
discórdia, apenas tenta não permitir que se confundam os seres que não tenham afinidades entre si , impedindo na
verdade separações futuras... Mas casais ainda sofrem por não darem ouvidos ao
incompreendido Anteros ... ou à razão...
Assim como os filhos
de Afrodite, nem tudo no amor é perfeito. Cada pessoa possui singularidades,
tem sua própria história de vida, seus medos ,desejos.
Em
alguns dias o amor será belo, em outros ,
poderá ser atropelado pela paixão.
O
sexo poderá ser maravilhoso, mas nem
sempre significará amor...
Como na mitologia, o amor possui inimigos como o medo, a dúvida, o terror das suspeitas -
por vezes infundadas - a recusa em
aceitar o outro como ele é. Amor precisa
ser também amizade, carinho, compreensão
e uma boa dose de tolerância , além da noção de que amar não é se perder no
outro . Nada atrapalha, nada interfere, nada perturba um amor verdadeiro
.Exatamente por isso, acontece para poucos. O amor é falível, mas é preciso
crescer e amadurecer através dele.
Quem diria que , mais de dois milênios atrás, esses gregos
já soubessem tanto sobre o amor, a ponto
de conseguirem representa-lo com tantas
nuances simbólicas , com suas faces, defesas, consequências; atravessando altivamente as brumas do tempo com irreparável contemporaneidade . E olha que eles
nem tinham hollywood a que recorrer...
...................
Mas,depois desse prolixismo todo, sinto que a ideia da
NÃO depilação ou até mesmo da calçola é que
ainda ecoam na alma e nas intenções desta “amiga” indecisa...
Hollywood terá enfim suplantado a sabedoria dos deuses ?
Mary Lúcia Oliveira.
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