Absurdos
machistas não me chocam mais. Evoluí. Agora, a reação que pretendo ter é a de
tentar desconstruir tais absurdos; ainda que seja por meio de ações pequenas , solitárias e irresponsavelmente
otimistas.
Deste
modo , recuso-me a falar do derradeiro absurdo
machista que estampou manchetes e redes sociais em todo Brasil e até fora. Sim,
recuso-me. Ao menos com os enfoques de sempre...
Não
que não sejam discussões válidas e necessárias, mas acho que prestarei um
serviço mais focado , consciente e produtivo, mudando ligeiramente o foco desta
discussão.
E qual seria este foco ?
Longe de esquecer a violência masculina, joguemos também os holofotes em nós mesmas, em nossas crenças, ações , omissões e rivalidades que nos fazem , quase sempre e de uma só feita: vítimas e carrascas de nós mesmas. Vítimas e algozes , ou seja, duplamente vítimas.
Basta
questionarmo-nos minimamente: quem
basicamente está educando a próxima geração de futuros machistas ? Majoritariamente,
nós mulheres, representadas por mães
(sim, a influência maior em casa ainda é fortemente materna), babás-empregadas (também ainda
massivamente mulheres que, de uma forma ou de outra, exercem sua influência
sobre as crianças sob sua responsabilidade), professoras (especialmente nas creches e na educação infantil , nas
quais mulheres ainda são a grande maioria), entre
outras tantas influências ; enfim, somos , direta ou indiretamente ,
co-responsáveis pela permanência do ranço machista em nossa sociedade.
E
como isso acontece?
Bem,
de várias maneiras; algumas escancaradas e outras mais veladas , com sutilezas
que precisam urgentemente serem
traduzidas. E
para que fique bem claro e acessível ,vou direto ao ponto.
Então...
Mulheres , vocês estão sendo machistas e, portanto , perpetuando o machismo e toda a agressividade
contra a mulher,a qual inclusive promove estupros e todo o tipo de violência,
não só contra mulheres mas que também,
indiretamente, acaba recaindo sobre os homens, QUANDO :
_
Dizem para o filho homem que ele não pode chorar, impedindo-o de acessar suas
emoções, podendo tornar-se aos poucos
frio e pouco empático com as dores alheias, além de não permitir que ele
construa suas formas de extravasamento de emoções – das quais todos precisamos.
-
Permitem ao filho homem uma liberdade sexual que é negada à filha.
-
Incutem no filho homem a ideia de que o serviço doméstico pertence à mulher , como se o único lugar no mundo pertencente à mulher fosse entre a cozinha e os afazeres domésticos.
Atitudes baseadas em
rivalidades femininas:
-
Dizem aos quatro cantos “não sou feminista, sou feminina” , como se isso
quisesse dizer alguma coisa racionalmente falando, enquanto argumento (aliás ,
vazio...), tentativa boba de se esquivar do “rótulo feminista” e achar que assim será mais
atraente aos olhos masculinos, cooptadas que estão pelo pobre discurso machista de que uma mulher
feminista não pode ser feminina, acabando por não perceberem que homens e
mulheres que rejeitam o termo “feminista” , na verdade não sabem de fato o que ele significa.
Feminismo não é um conceito que você deva rejeitar. Se você é uma feminista,
você acredita em liberdade , justiça e
oportunidades iguais para todos.
E é só isso, mesmo !
- Não defendem a outra diante de comentários machistas. Terrível, mas acontece o
tempo todo. Novamente, o medo do rótulo “feminista”.
- Unem-se a outra (s) para “derrubar” uma terceira, apenas por não conseguirem
conter o ciúme e a inveja em relação a esta terceira (sentimentos estimulados pelo machismo); especialmente quando percebem que ela
é objeto do desejo de um homem próximo. Aliás , infelizmente, é esse um comportamento
tão básico e comum entre as mulheres que até as mais experientes e vividas costumam
render-se a ele , como se isso tivesse o poder de evitar um encontro entre duas
pessoas. Só não acontecerá se um dos dois não quiser, e ponto. Enfim,
desafortunadamente, uma falsa união ou falsa amizade entre mulheres, interessadas não em
compartilharem mas apenas em tramarem contra uma outra. Amizade essa que seria
quase comovente, não fosse grotesca e de uma pobreza vil de espírito.
Atitudes Sutis e quase
inconscientes:
-
Não se assumem machistas. Acredite, este é o primeiro passo, afinal, fomos educadas , na imensa maioria das vezes, por mulheres ultra machistas.
-
Permitem que controlem seu corpo. Não é a profundidade de seu decote ou o tamanho de sua saia que tem que ser mudado
, mas as práticas agressivas, milenares e
patriarcais de controle do corpo da mulher, que fazem inclusive com que ela
própria acredite que estar com uma determinada roupa é motivo válido
para uma mulher sofrer violências.
-Fazem ou compactuam com piadinhas machistas. O lúdico abre as portas do inconsciente
e coloca , bem lá dentro do ser, todo o machismo escondido no pseudo-engraçado .
Bem, é claro que não esgotei o tema ; sequer seria possível.
Mas vou parar por aqui, até por que , não haveria como exprimir em um único texto infindáveis mecanismos machistas de coerção feminina e manutenção do machismo em nossa sociedade.
Enfim, é preciso ter em mente que os Filhos e filhas desta e das próximas gerações vão levar para toda a vida as concretas
lições de machismo prático e “outrofobia” que receberem de seus desavisados e
inconscientes pais .
Você não seria, ou viria a ser, um destes pais ? Tem certeza?
Alguns
destes filhos e filhas , como eu ,talvez consigam - a custa de muitos erros e
esforços pessoais - superar tais ensinamentos nocivos e altamente preconceituosos ,
entretanto, a imensa maioria, em breve reproduzirá estes comportamentos machistas para
seus filhos e filhas, perpetuando nas próximas gerações tanto o machismo quanto a violência
decorrente deste.
Em suma...
Mary Lúcia Oliveira.